A euforia inicial com a eleição de Donald Trump se tornou uma grande turbulência no mercado financeiro diante de políticas comerciais que podem desacelerar o crescimento dos EUA. E um grande exemplo dessa virada de mão é o dólar, que zerou os ganhos que teve após as eleições americanas em menos de dois meses de novo governo.
O impacto mais recente ocorreu no início desta semana, quando Trump confirmou o aumento das tarifas contra China, Canadá e México, intensificando o cenário de guerra comercial.
Com isso, o Dollar Index, um índice que compara o dólar com as seis maiores moedas do mundo, fechou a semana com perdas de 3,5%, a 103,85, atingindo seu pior nível desde 5 de novembro do ano passado, quando estava em 103,42.
Já o Bloomberg Dollar Spot Index caiu 2,4%, em sua maior queda semanal desde novembro de 2022. O índice da Bloomberg compara o dólar com uma cesta de dez moedas selecionadas pela empresa de mídia.
As tarifas impostas por Trump, mesmo sendo adiadas depois, criaram incertezas e lançaram questionamentos sobre a perspectiva econômica dos EUA. Não só a guerra comercial em si, mas políticas como cortes fiscais e demissões em massa no setor público também preocupam os investidores.
Esse crescimento mais lento vem combinado com os riscos de um possível aumento da inflação no país, o que geraria a temida “estagflação”, que não ocorre nos EUA há 50 anos.
O dado mais recente desse cenário, do Relatório de Emprego, divulgado nesta sexta-feira (7), mostrou que o crescimento das vagas nos EUA se estabilizou no mês passado, enquanto a taxa de desemprego aumentou, apontando para um mercado de trabalho mais fraco.
Isso reforçou essa visão pessimista que o mercado já tinha, elevando a perspectiva de que o Federal Reserve pode cortar juros nos próximos meses. Sobre isso, Jerome Powell, presidente do Fed, afirmou hoje que irá aguardar para ter mais clareza sobre o impacto das políticas de Trump na economia antes de definir sobre os juros no país.
“O novo governo está em processo de implementação de mudanças significativas em quatro áreas distintas: comércio, imigração, política fiscal e regulamentação”, disse Powell em um fórum econômico da Chicago Booth School of Business da Universidade de Chicago. “A incerteza sobre as mudanças e seus prováveis efeitos continua alta.”
E o cenário americano contrasta com o aumento nos planos de gastos na Europa, especialmente na Alemanha, que impulsionou o euro para sua melhor semana desde 2009, com a moeda europeia subindo quase 5%.
“A enorme mudança fiscal na Alemanha impulsionou as expectativas de crescimento na zona do euro e isso ocorreu em um momento em que as preocupações com as perspectivas de crescimento dos EUA aumentaram”, disse Lee Ferridge, estrategista da State Street, para a Bloomberg.
E como fica o real?
Por aqui, o real também é impactado por esse cenário pessimista nos EUA, tanto que o dólar caiu 2,13% na semana contra o real. Porém, a alta de 0,57% da moeda americana hoje mostra que temos nossas particularidades.
Ignorando um pouco o cenário externo, voltou a preocupar os investidores locais o cenário fiscal, com investidores reagindo ao anúncio feito pelo governo federal na quinta de um plano para tentar reduzir os preços de alimentos, o que levanta dúvidas sobre os impactos fiscais das medidas.
O vice-presidente Geraldo Alckmin anunciou que o governo vai zerar a alíquota de importação da carne e de outros produtos como parte de uma série de medidas para reduzir os preços de alimentos.
Ele afirmou que a decisão faz parte de um “primeiro” conjunto de medidas, que também inclui zerar as alíquotas de importação de café, açúcar e milho, entre outros.
“(Há) risco fiscal no radar. Sobre isso, eu destacaria gastos do governo na tentativa de segurar a inflação de alimentos e demais despesas que podem impactar as contas públicas”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital, para a Reuters.
Bergallo também destacou o valor bem inferior do dólar no Brasil em relação ao fim do ano passado, na esteira de um movimento de correção que a divisa passou no início de 2025, o que estaria segurando uma possível nova alta do real (queda do dólar) em meio às incertezas no exterior.
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