Em um momento histórico sem precedentes, o reconhecimento de Maria Madalena no afresco Juízo Final, obra-prima de Michelangelo (1475-1564) que se estende por toda a parede do altar da Capela Sistina, realizada pela pesquisadora e restauradora italiana Sara Penco, ganha destaque na véspera do conclave que escolherá o novo papa, no dia 7 de maio. Pela primeira vez, o evento será realizado (literalmente) sob o legado dessa nova leitura sobre a santa, que surge como uma figura central na história da cristandade.
Penco, que há mais de dez anos se dedica ao estudo profundo das obras do gênio italiano, fez uma descoberta que mexeu com o mundo acadêmico e religioso. Ela identificou, pela primeira vez, a existência da mulher retratada no Novo Testamento como parte da obra que fica dentro do museu do Vaticano.
“Como era possível que, na Capela Sistina, onde se retrata toda a história cristã, a figura de Maria Madalena, tão crucial, estivesse ausente?” perguntou, em entrevista à VEJA.

De acordo com a pesquisadora, seu estudo começou com a percepção de que a representação de Maria Madalena no Juízo Final nunca foi discutida adequadamente. A figura feminina, posicionada estrategicamente ao lado da cruz, sempre foi ignorada. Mas Sara fez a conexão entre a imagem e a seguidora de Jesus, considerando elementos como o vestido amarelo (cor símbolo do discernimento) e o gesto de beijar a cruz. A revelação gerou uma onda de reações internacionais e a pesquisadora também publicou um livro com seu estudo, pela editora Scripta Maneant.
Todo o trabalho foi possível graças à ferramenta Smarticon, criada por ela. Trata-se de uma plataforma digital que permite identificar obras de arte com base em atributos visuais fornecidos pelo usuário, como cores, objetos ou detalhes iconográficos. O sistema cruza essas informações com uma base de dados composta por conteúdos validados por especialistas, garantindo respostas confiáveis e certificadas. O método, patenteado em 2017 pelo Ministério do Desenvolvimento Econômico da Itália, é aplicável globalmente e em diversos contextos, incluindo educação, segurança e preservação do patrimônio cultural. Além disso, pode integrar tecnologias como blockchain e inteligência artificial para funções específicas, mantendo uma interface simples e acessível a todos os usuários, desde especialistas até curiosos ou instituições governamentais.

Barulho na Igreja
O anúncio da descoberta no afresco foi feito em dezembro de 2024 e gerou impactos profundos na compreensão da arte e da religião.
“Maria Madalena é a primeira evangelizadora, e sua figura precisa ser reconhecida”, afirmou Penco, ressaltando a importância de sua descoberta para a narrativa cristã.
Além disso, a pesquisadora recebeu uma carta de agradecimento do papa Francisco, que também se empenhou em resgatar o papel da figura feminina na Igreja Católica. O Santo Padre reforçou a data de 22 de julho como celebração da santa tornando-a uma festa litúrgica (parte do calendário). Assim, confirma-se a alcunha de “apóstola dos apóstolos”.
Penco continua sua pesquisa e promete mais revelações sobre as conexões simbólicas e espirituais entre a arte e a religião, enquanto a Igreja Católica vive um momento de reflexão profunda. A descoberta da pesquisadora reforça o papel da arte como um veículo de comunicação entre o divino e o humano, e, ao mesmo tempo, coloca Maria Madalena no centro do debate sobre o futuro da Igreja.

Ela não arrisca prever quem será o sucessor de Francisco em termos de identidade, mas aposta em alguém que represente uma alma moldada pelos ensinamentos do falecido pontífice e pela mensagem espiritual de Michelangelo.
“Alguém que eleve o espírito acima das coisas terrenas e use a fé pura como instrumento de união entre os povos”, deseja a fiel católica. Ela destaca que esse é o verdadeiro papel do Vigário de Cristo: ensinar e dar exemplo. Para ela, o novo líder da igreja deve refletir esse perfil, independentemente de seu rosto, nome ou país de origem.
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