30 de abril de 2025

Investidores cobram clareza de Trump após mês turbulento para os mercados

O mês de abril foi um verdadeiro teste de nervos para os investidores em ações: começou com fortes quedas após o presidente Donald Trump desencadear uma guerra comercial global, passou por uma recuperação quando ele recuou em algumas tarifas, e terminou com incertezas persistentes mesmo diante de sinais de desaceleração econômica. Com a chegada de maio, Wall Street espera, acima de tudo, clareza sobre os rumos da política comercial da Casa Branca — mas não deve prender a respiração.

Nesta quarta-feira (30), o índice S&P 500 interrompeu uma sequência de seis altas consecutivas, refletindo dados que mostraram contração da economia dos EUA em abril — a primeira desde 2022 — e desaceleração nas contratações.

“Abril foi como uma montanha-russa em V clássico”, disse Scott Ladner, diretor de investimentos da Horizon Investments. “De muito otimistas no dia 1º, fomos a extremamente pessimistas no dia 3 — e tudo por uma única variável.”

Sobe e desce do mercado

O estopim para a instabilidade foi o anúncio de novas tarifas feito por Trump em 2 de abril, que levou o S&P 500 a despencar mais de 12% em apenas quatro sessões. Uma semana depois, ao anunciar uma trégua de 90 dias em algumas tarifas, o presidente impulsionou o maior salto diário do índice em 17 anos: alta de 9,5%. Desde então, o mercado oscilou e encerrou o mês com queda inferior a 2%.

Apesar da leve recuperação, o sentimento é de apreensão. Para Ladner, embora o chamado pain trade — movimento contrário ao consenso de mercado — ainda aponte para uma possível alta, os riscos são muitos. “A direção precisa ficar clara daqui para frente”, afirmou.

O investidor, atualmente, tem reduzido exposição em ações dos EUA e ampliado posições em mercados internacionais.

Um movimento similar é observado nos dados do Deutsche Bank: os aportes em fundos de ações seguem fortes, mas se deslocam dos EUA para o exterior. Já os investidores sistemáticos ainda operam com baixa exposição, enquanto os discricionários voltaram a níveis mais neutros. No geral, a alocação em ações subiu nas últimas duas semanas, desde que Trump anunciou a pausa tarifária.

Mercado se movendo como um bloco

A atenção quase exclusiva às negociações comerciais aumentou a correlação entre os papéis do S&P 500 ao maior nível desde 2020. Isso significa que o mercado está se movendo como um bloco — e que poucos ativos oferecem refúgio se uma nova turbulência surgir.

O pessimismo, por sua vez, cresce. A pesquisa da  American Association of Individual Investors (Associação Americana de Investidores Individuais) mostra que o sentimento de baixa está acima da média histórica pela 21ª vez nas últimas 23 semanas.

Paradoxalmente, esse excesso de pessimismo costuma preceder recuperações expressivas — como a recente sequência de seis altas seguidas no S&P, a maior desde a eleição de Trump, em novembro passado.

Hora de fazer hedge

Ainda assim, estrategistas alertam para a cautela. Segundo análise do HSBC, a queda do índice neste ano é compatível com recuos observados em recessões brandas ou períodos de estagflação leve.

Operadores de volatilidade também recomendam usar o momento para fazer hedge, enquanto o custo está baixo: o preço de opções de venda de curto prazo (puts), em relação às de compra (calls), atingiu o menor nível desde 2 de abril.

Apesar da trégua nas tarifas — que agora também abrange o setor automotivo — uma resolução definitiva para a guerra comercial iniciada por Trump segue distante. E o presidente segue adicionando incertezas, como nas críticas renovadas ao presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, figura respeitada por Wall Street.

“Esse mercado parece estar passando por um processo de consolidação após quedas acentuadas”, avaliou Paul Christopher, estrategista-chefe da Wells Fargo Investment Institute. “Talvez não vejamos uma nova mínima, mas é bem provável que o mercado volte a testar aquela região.”

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