1 de maio de 2025

Sem cérebro e sem olhos: a horrível história da jo…

Homem não identificado. Assim dizia a etiqueta pregada num saco de plástico branco contendo os restos mortais de uma das centenas de presos ucranianos devolvidos pelas autoridades russas. Na verdade, era uma mulher e sua identidade acabou confirmada por DNA: Victoria Roshchina. O corpo não tinha cérebro, olhos e laringe. Pesava trinta quilos. Os longos cabelos castanhos da jornalista de apenas 27 anos estavam raspados.

Será que isso chegará ao conhecimento dos mais de vinte chefes de Estado que envergonham seus países ao atenderem o convite de Vladimir Putin, o invasor da Ucrânia, para comemorar o dia da vitória na II Guerra Mundial e mostrar aos Estados Unidos que formam uma nova frente?

Será que, mesmo sabendo, algum deles ligará a mínima? Será que dividir espaço com ditadores como Nicolás Maduro e visitar Moscou em plena guerra, unilateralmente provocada pela Rússia, apaga os mínimos resquícios de consciência?

Um consórcio de jornalistas europeus e ucranianos reconstituiu a trajetória fatal de Victoria, repórter do Ukrainska Pravda que assumiu enormes riscos ao se infiltrar em territórios ocupados pela Rússia, foi presa, extensamente torturada, parece ter sofrido uma pane mental e acabou morrendo depois de um ano de prisão em condições atrozes.

CICATRIZES DE FACADAS

Seu corpo tinha “numerosos sinais de tortura”, incluindo queimaduras nos pés causadas por choques elétricos, ferimentos nos quadris e na cabeça, uma costela quebrada, o osso hióide estava fraturado, o que é comum em casos de estrangulamento, dizem as reportagens publicadas simultaneamente por jornais como o Guardian, Le Monde, Corriere della Sera e outros títulos de respeito.

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“Uma coisa é certa, Roshchina foi vitimada pelos mesmo tipo de crimes que queria trazer a público”, escreveu o Guardian, de impecáveis credenciais esquerdistas.

Uma companheira de cela, depois libertada, relatou sob garantia de anonimato, uma parte desse martírio, tal como contado por Vika, como era chamada, As extensas torturas começaram numa “garagem” de Melitopol, o nome dos centros de tortura. Sofreu choques elétricos e vários cortes com faca que deixaram cicatrizes nos braços e nas pernas.

No fim de 2023, foi transferida para outro centro de detenção, em Taganrog, a cidade natal de Chekov transformada em sinônimo de terror. “Ela já estava cheia de remédios desconhecidos”, diz outro relato de testemunha anônima. “Chegou e começou basicamente a enlouquecer”.

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AS TORTURAS SÃO IGUAIS

Victoria parou de comer e ficava deitada em posição fetal no chão da cela. Os pés e as pernas incharam, um sinal de desnutricão. Foi hospitalizada e, de volta à prisão, os guardas passaram a oferecer extras impensáveis para outros prisioneiros, como bananas e doces. Chegou a ser autorizada a dar um telefonema para os pais. É possível que as autoridades russas não quisessem que morresse, por já ser relativamente conhecida.

Ou não estavam nem aí? O número de visitantes que farão rapapés a Putin no desfile em Moscou mostra que não precisavam se preocupar: coisas como crimes de guerra não os incomodam.

A história de Victoria não é muito diferente da de milhares de outras vítimas civis ucranianas, destacando-se pelos detalhes horripilantes sobre a retirada de órgãos vitais do corpo e por envolver uma jornalista tão jovem. Uma especulação: os órgãos foram retirados para ocultar sinais de estrangulamento numa futura necrópsia.

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Na verdade, todos os torturados em todos os lugares do mundo têm histórias parecidas. Inclusive os que sofreram abusos inomináveis durante o regime militar brasileiro. Prisioneiros ucranianos libertados relatam até métodos tristemente conhecidos no Brasil, como a “cadeira do dragão”, para os choques elétricos, e o pau de arara.

É uma ignomínia que isso não seja lembrado e levado em conta por quem vai ao beija-mão de Putin.

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