Pelo menos onze juízes federais dos Estados Unidos que deliberaram de forma contrária a medidas do governo do presidente Donald Trump viram suas famílias se tornarem alvo de ameaças e assédio por parte de apoiadores do republicano, descobriu uma investigação da agência de notícias Reuters divulgada nesta sexta-feira 2.
Desde que Trump assumiu a presidência em janeiro, pelo menos sessenta juízes ou tribunais de apelação alteraram ou bloquearam algumas das ações de sua administração. As decisões desencadearam uma campanha de intimidação, com centenas de publicações nas redes sociais associadas à extrema direita, que incitam hostilidade contra os magistrados e seus parentes — com imagens, informações pessoais e até ameaças diretas.
Ampliadas por alguns dos maiores aliados de Trump, incluindo o bilionário e dono da rede social X, Elon Musk, essas postagens foram vistas mais de 200 milhões de vezes.
“As ameaças aos juízes e suas famílias são, em última instância, ameaças ao governo constitucional”, afirmou o juiz Richard Sullivan, que lidera um Comitê de Segurança do judiciário e compõe o Tribunal de Apelações dos Estados Unidos para o Segundo Circuito.
Dano colateral
Outras bravatas vieram por meio de telefonemas e e-mails para os tribunais, ou até para as residências pessoais dos juízes e seus parentes, de acordo com registros judiciais. Alguns dos magistrados ouvidos Reuters afirmaram temer pela segurança de suas famílias devido às ameaças, e relataram mudanças na rotina, como evitar eventos públicos e monitorar veículos suspeitos.
James Boasberg, juiz que em abril autorizou a possibilidade de criminalizar integrantes do governo por descumprirem uma ordem judicial na área de deportações, é um dos que viu parentes se tornarem alvo da campanha de intimidação online. Pouco depois da decisão de Boasberg, sua filha e seu irmão foram atacados nas redes sociais, com postagens que pediam até a execução de toda a família.
O juiz John McConnell também enfrentou uma onda de ameaças após considerar ilegal o bloqueio de verbas federais decretado por Trump.
O cerco à Justiça gerou um pedido formal ao Congresso por mais recursos para segurança, citando a sobrecarga do Serviço de Marshals dos Estados Unidos, responsável pela proteção dos magistrados.
“Parcialidade”
Enquanto isso, Trump, que enfrenta mais de 200 ações judiciais desafiando a legalidade de seus decretos, e seus aliados seguem criticando o judiciário e pedindo o impeachment de vozes a quem acusam de “parcialidade” nas decisões.
“Não podemos permitir que um punhado de juízes de esquerda radical comunista obstrua a aplicação de nossas leis e assuma os deveres que pertencem exclusivamente ao presidente dos Estados Unidos”, disse Trump durante um comício na terça-feira, que marcou seus primeiros 100 dias de mandato.
A Casa Branca, por sua vez, disse que são os magistrados que exageram, não o presidente. Mas concedeu que as ameaças são “inaceitáveis”.
“Ninguém leva as ameaças à segurança mais a sério do que o presidente Trump — um líder que sobreviveu não a uma, mas a duas tentativas de assassinato”, disse um dos porta-vozes do governo, Harrison Fields. “A segurança de todo americano é sua principal prioridade, e qualquer um que coloque em risco essa segurança será processado em toda a extensão da lei.”
More Stories
Príncipe Harry perde batalha judicial contra gover…
Equador passa a exigir vacina contra febre amarela…
Morre a freira brasileira que era a pessoa mais ve…