3 de maio de 2025

Impasse trava fusão bilionária entre Bunge e Viterra

As crescentes tensões comerciais entre Estados Unidos e China estão comprometendo a aquisição de US$ 8,2 bilhões da Viterra, uma investida da gigante suíça Glencore, pela trading agrícola Bunge, segundo fontes ouvidas pela Bloomberg.

O governo chinês ainda não aprovou o acordo, e executivos da Bunge, assim como seus assessores, estão cada vez mais preocupados que o atrito político continue a obstruir o processo. O CEO Greg Heckman viajou à China diversas vezes para negociações com autoridades locais.

A Bunge, conhecida como o “B” no quarteto ABCD das tradicionais empresas de trading de commodities agrícolas – a saber, ADM, Bunge, Cargill e (Louis) Dreyfus – que dominam os mercados globais, anunciou a compra da Viterra em junho de 2023. 

Na época, o JPMorgan Chase estimou que a aquisição pela Bunge criaria um gigante agrícola de US$ 25 bilhões capaz de competir com a Cargill, a maior trading de grãos do mundo.

Em comunicado, a Bunge afirmou estar na fase final de aprovação regulatória e que mantém um “diálogo construtivo” com autoridades chinesas. O Ministério do Comércio da China e a administração estatal de regulação de mercado não responderam aos pedidos de comentário.

A empresa já ultrapassou o prazo inicial para fechar o acordo, previsto para meados de 2024, e também as duas prorrogações automáticas de três meses incluídas no contrato. Se o negócio não for concluído por falha na obtenção de aprovações antitruste, a Bunge teria que pagar à Viterra uma taxa de rescisão de US$ 400 milhões.

A aquisição já recebeu sinal verde em regiões como Europa e Canadá, onde havia preocupações sobre impactos na concorrência. A Argentina ainda não se manifestou, mas as leis antitruste do país sul-americano permitem que o acordo seja concluído, com possíveis medidas corretivas exigidas posteriormente. No Brasil, o negócio foi aprovado sem restrições pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

A Bunge opera cerca de cinco fábricas de oleaginosas na China, enquanto a Viterra mantém uma unidade de comercialização de grãos no país asiático.

Em meio à guerra comercial, outros acordos também estão em compasso de espera, incluindo a compra pendente de US$ 34 bilhões da desenvolvedora de software Ansys pela projetista de chips Synopsys, uma das maiores aquisições dos últimos anos.

A China poderia impor condições aos termos do acordo para manter a concorrência. Quando a trading japonesa Marubeni comprou a comerciante de grãos americana Gavilon há uma década, a China exigiu que as empresas mantivessem unidades comerciais independentes para a venda de soja ao país asiático.

No caso do acordo da Bunge, houve escrutínio do lado chinês de que a fusão aumentaria a concentração do setor e poderia impactar os interesses de segurança alimentar de Pequim, segundo uma das fontes.

A Bunge foi fundada em 1818 pelo importador holandês Johann Bunge e, sete décadas depois, aliou-se a outra família para começar a negociar grãos. Expandiu-se para a América Latina em 1884 e para os EUA em 1923. A empresa mudou repetidamente sua sede – para Argentina, Brasil, Nova York e, mais recentemente, St. Louis.

A empresa afirmou em comunicado que o acordo “fortalecerá a resiliência do abastecimento global de alimentos, beneficiando agricultores e consumidores finais em todo o mundo, garantindo um fornecimento estável, diversificado e confiável de produtos agrícolas essenciais”.

Embora a Bunge seja listada em Nova York, ela está domiciliada na Suíça, com sua mesa de negociação de commodities baseada em Genebra. Cerca de 80% da capacidade de processamento de uma Bunge-Viterra combinada estaria localizada fora dos EUA, assim como mais de 85% dos funcionários.

© 2025 Bloomberg LP

Source link

About The Author