O Chile cancelou a ordem de retirada para a população de Magalhães, no extremo sul do país, após um terremoto de magnitude 7,5 atingir a costa da cidade argentina de Ushuaia nesta sexta-feira, 2, o que provocou um alerta de tsunami. O potencial para desastre, porém, ainda existe, e autoridades locais mantiveram em pé o aviso para a onda, que deve ser “pequena”.
José Antonio Ruiz, delegado presidencial regional de Magalhães, para onde o alerta foi inicialmente emitido, afirmou que “o sistema de evacuação foi desativado e o estado de prontidão é mantido. Os moradores podem retornar às suas casas e empregos”.
“A informação que temos é que as ondas que deveriam ter passado pela base da Antártica não ocorreram de fato. Mas, é claro, pedimos a todos que mantenham a comunicação caso haja alguma nova informação ou qualquer nova direção que este evento possa tomar. As informações atualizadas que temos hoje são o que estamos confirmando. O sistema de evacuação preventiva foi desativado e o estado de precaução permanece em vigor”, concluiu a autoridade.
O governo federal do Chile também confirmou que um “estado de precaução” está em vigor para a região de Magalhães e a Antártida chilena.
“Esse estado é estabelecido quando há uma ameaça de um pequeno tsunami com impacto limitado na área costeira”, explicou a administração por meio de sua conta oficial no X, antigo Twitter.
À espera de ondas
As cidades que podem ser afetadas, como Punta Arenas, Puerto Natales e Porvenir, têm baixa densidade populacional, e a expectativa é que a primeira onda não ultrapasse um metro. Portanto, segundo o geólogo Marcelo Lagos, o próximo tsunami não deve causar grandes danos.
No entanto, “geralmente a segunda e terceira ondas são maiores”, completou o especialista em entrevista à televisão chilena CHV.
O Sistema Nacional de Alerta de Tsunami (SNAM) do Chile informou ao público que os tempos estimados de chegada de um possível tsunami seriam os seguintes:
- Base Prat Antártica: sexta-feira às 11h35
- Base O’Higgins da Antártida: sexta-feira às 12h
- Caleta Meteoro: sexta-feira às 13h49
- Puerto Williams: sexta-feira às 14h50
- Puerto Edén: sexta-feira às 21h07
- Punta Arenas: sábado às 2h25
- Baía de Gregório: sábado às 02h26
“Aqui em Punta Arenas (145 mil habitantes) as coisas estão muito tranquilas”, disse um repórter da CHV, que também relatou que as pessoas estão voltando para suas casas.
De acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), um grande tremor com epicentro a cerca de 219 quilômetros da costa de Ushuaia ocorreu às 8h58 locais. O foco foi na Passagem de Drake, uma rota marítima entre o extremo sul da América do Sul e a Antártida. A profundidade do terremoto foi estimada em cerca de 10 quilômetros – extremamente próximo à superfície.
Tremores secundários foram relatados na região. Um abalo de magnitude 6,1 atingiu Magalhães. Até o momento, não houve relatos de danos ou feridos. O prefeito da cidade chilena Punta Arenas, Claudio Radonich, informou que “o comportamento da população foi exemplar; não tivemos nenhum problema”. Ele também indicou que “o status de alerta foi rebaixado para ‘cautela’, uma vez que relatórios indicam que as ondas serão menores”.
No entanto, testemunhas indicaram que o mar já começou a baixar naquela cidade (seis ou sete metros, segundo testemunhas), como ocorreu também na praia de Magalhães. A maré costuma recuar antes de um tsunami.
Enquanto esperavam pelas ondas, o Serviço Hidrográfico e Oceanográfico da Marinha (SHOA) emitiu vários avisos:
1) Um tsunami pode se manifestar por horas. NÃO retorne ao litoral até que as autoridades confirmem que não há perigo.
2) Normalmente a primeira onda não é a mais destrutiva.
3) Em baías fechadas, os efeitos de um tsunami são amplificados.
4) Fortes correntes podem ocorrer em portos, enseadas, estuários e rios.
Histórico de desastres no Chile
Desde 1570, ocorreram cerca de 100 grandes terremotos no Chile, dos quais quase 30 foram de magnitude 8 ou superior. De acordo com o Departamento de Gestão de Riscos de Emergência e Desastres, em média, um abalo desse nível ocorre a cada década.
Em maio de 1960, ocorreu o maior tremor já registrado no país, com magnitude 9,5. Seu epicentro foi na cidade de Traiguén, na província de Malleco, mas ele ficou conhecido como “terremoto de Valdivia”, porque foi lá onde ocorreram os maiores danos. O incidente também provocou um tsunami com ondas de até 10 metros de altura que devastou grande parte do sul do país. O desastre chegou até a Ásia. O Japão, por exemplo, foi atingido por ondas de seis metros de altura, deixando vários mortos e danos significativos. O número oficial de óbitos não é preciso; sabe-se apenas que houve mais de 2.000 vítimas.
O último grande terremoto a atingir o Chile foi conhecido como “27F”, ocorrido em 27 de fevereiro de 2010, o segundo mais forte da história. Com magnitude 8,8, seu epicentro foi na costa da região do Maule e surpreendeu a população durante a madrugada.
Assim como em 1960, cerca de meia hora após o terremoto, um tsunami atingiu o país, principalmente nas regiões de Maule e Biobío. Fora do Chile, o tsunami atingiu Peru, Equador, Colômbia e Costa Rica, mas sem grandes danos no exterior. Mais de 500 pessoas morreram em consequência do episódio, e cerca de cinquenta pessoas ficaram desaparecidas.
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