El Salvador, um país na América Central do tamanho do estado de Sergipe, com cerca de 6 milhões de habitantes, entrou no mapa e ganhou relevância geopolítica por virar laboratório de uma das experiências mais radicais de combate ao crime no mundo atual, tema sobre o qual se debruça a capa de VEJA desta semana. Mas ao lado do truculento modelo de segurança pública implementado pelo presidente Nayib Bukele, que desmantelou o domínio das gangues atropelando a democracia e os direitos humanos no trajeto, seu governo também tornou-se conhecido por outra política controversa: a aposta em bitcoins.
Em 2021, El Salvador tornou-se o primeiro país a tornar o bitcoin uma moeda corrente, ao lado do dólar. O presidente prometeu evitar os mercados de capitais convencionais e levantar bilhões por meio de títulos tokenizados em blockchain. Ele compraria em criptomoedas o equivalente a US$ 500 milhões (cerca de R$ 2,8 bilhões, na cotação atual), construiria uma “cidade do bitcoin” no meio da selva e desenvolveria energia geotérmica para abastecer os dispendiosos softwares mineradores do ativo.
A adoção da criptomoeda rendeu elogios a Bukele por parte de entusiastas do setor, mas mercados convencionais rejeitaram as propostas. Vários títulos salvadorenhos foram negociados abaixo de 30 centavos de dólar no segundo semestre de 2022. Quando o governo começou a adiar os salários do setor público para preservar o caixa, os investidores se prepararam para o pior.
Para conter o déficit, o governo Bukele solicitou um empréstimo ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que concordou, em fevereiro deste ano, em desembolsar US$ 1,4 bilhão (R$ 7,9 bilhões) ao longo de quarenta meses. Com uma condição: que o país interrompesse a acumulação do ativo. Após uma mudança na lei, impostos não podem mais ser pagos em bitcoins, e sua aceitação por empresas privadas é voluntária.
No entanto, uma declaração recente da ministra da Economia de El Salvador, Maria Luisa Hayem, indicou que a promessa não vai ser cumprida.
“Há um compromisso do presidente Bukele de continuar acumulando ativos justamente com esse objetivo”, disse ela em entrevista ao vivo à Bloomberg News durante o Web Summit no Rio de Janeiro, na terça-feira 30, ao ser questionada se o governo ainda está comprando bitcoin.
Investidores se atentam a sinais de que o país endividado está ou não cumprindo os termos do acordo. O Escritório de Bitcoin de El Salvador, responsável pela aquisição da moeda, tem se vangloriado nas redes sociais de que as compras continuam, e Hayem afirmou que as criptomoedas seguem sendo uma prioridade para o governo.
“O bitcoin continua sendo um projeto importante”, afirmou. “Estamos vendo uma acumulação de ativos tanto do ponto de vista do governo quanto do setor privado.
Não está claro o que isso significa para a continuação do empréstimo do FMI – necessário, inclusive, para financiar o custoso e draconiano sistema carcerário de Bukele, que consome US$ 200 milhões por ano.
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