Antes de se encerrarem entre quatro paredes, na Capela Sistina para decidir quem será o próximo papa, os cardeais se reúnem em congregações gerais, reuniões feitas para”tomar o pulso” do colegiado que têm o poder de decidir em quais águas a “nau de Pedro” irá navegar. Nessas reuniões, apresentam seus trabalhos no episcopado e fazem falas sobre o futuro da Igreja Católica. Foi um discurso sobre a necessidade de se cuidar das periferias – “geográficas” e “espirituais” – que abriu horizontes para o então cardeal de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, se transformar em papa Francisco, em 2013.
A nona Congregação Geral, ocorrida neste sábado, 03, no Vaticano, foi a que mereceu mais destaque por parte da equipe de comunicação oficial. No mais detalhado informe sobre o teor das conversas, até agora, a Santa Sé relatou tópicos que apontam para a continuidade do legado de Francisco. Desde sua morte, dois caminhos têm sido apontados como decisivos para a escolha do novo pontífice: seguir as mudanças implementadas há treze anos, ou adotar uma postura mais conservadora, representada por uma ala tradicionalista.
Vinte e seis falas foram realizadas, sendo que seis delas apontaram mais diretamente para o futuro. Não foram divulgados os nomes dos cardeais que pediram a palavra. O primeiro sinal de desejo de continuidade veio na forma de agradecimentos ao “magistério do papa Francisco” e um chamado à continuidade dos processos iniciados por ele, como a reforma da Cúria e o impulso à sinodalidade. Em trecho do comunicado oficial, eles expressaram o desejo de um novo pontífice “capaz de guiar uma igreja que não se feche em si mesma, mas que saiba sair e levar luz a um mundo marcado pelo desespero”.
A linha franciscana de uma instituição mais arejada e antenada com o século XXI, próxima do povo e do sofrimento humano ficou ainda mais clara em uma das mais contundentes colocações divulgadas pelo Vaticano até o momento. “Surgiu a consciência do risco de a Igreja tornar-se autorreferencial e perder sua relevância se não viver no mundo e com o mundo”. Desde que os cardeais passaram a trocar ideias, nada do tipo havia sido ventilado.
Também foram discutidos temas como a fraternidade, educação, ecumenismo e a paz, que continuam a ser prioridades. Entre os pontos debatidos, destacaram-se ainda a colaboração entre organismos locais, o papel da Cúria Romana e o próximo Jubileu. A expectativa é que o futuro papa mantenha a cristandade viva, relevante e conectada com as realidades contemporâneas.
Com a presença de 177 cardeais, dos quais 127 são eleitores que participarão do próximo conclave, a sessão teve início com um momento de oração e seguiu com a escolha dos representantes que auxiliarão o camerlengo na administração dos assuntos ordinários durante o período de Sede Vacante (quando não há papa).
Organização do rito
O camerlengo é o cardeal responsável pela administração da igreja durante a vacância da Sé. Ele gerencia bens, organiza o conclave e supervisiona os processos durante a transição até que o nome do novo Santo Padre seja anunciado. Durante esse período, também tem a função de anunciar oficialmente a morte do papa e garantir que os procedimentos necessários sejam seguidos.
Foram sorteados para a comissão os cardeais Robert Francis Prevost, O.S.A., norte-americano e atual prefeito do Dicastério para os Bispos; e Marcello Semeraro, italiano e prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos. Já Reinhard Marx, alemão e arcebispo de Munique, permanece como coordenador do Conselho para a Economia, órgão responsável pela supervisão financeira da Santa Sé.
As próximas sessões ocorrerão na segunda-feira, 5, pela manhã e à tarde. A Basílica de São Pedro promoverá o Rosário todos os sábados à noite, durante o mês de maio. A reforma da Casa Santa Marta, onde os cardeais ficarão hospedados durante o conclave, será concluída nos próximos dias, com entrada autorizada antes da Missa Pro Eligendo Romano Pontifice, que marca o início do processo de eleição do novo papa.
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