13 de maio de 2025

Os potenciais conflitos de interesses na viagem de…

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu o pontapé inicial nesta terça-feira, 13, a um giro pelo Oriente Médio com foco não nas crises da região, como a guerra em Gaza, mas em oportunidades de negócios com os ricos países do Golfo. Não bastasse essa polêmica, uma outra deve pairar sobre as três escalas da turnê (Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Catar), cada qual onde a sua empresa familiar, a Trump Organization, já fechou contratos imobiliários. São mais conflitos de interesse em potencial do que nunca – o que, quando se trata dele, quer dizer muito.

Os filhos do presidente, que chefiam a Trump Organization, também passaram as últimas semanas viajando pelo Oriente Médio. Lá, prepararam o terreno para acordos que beneficiarão a empresa e, em alguns casos, o próprio Trump. Com isso, cai por terra uma das normas que regia o sistema democrático dos Estados Unidos: a confiança de que um presidente não pode ser financeiramente favorecido por seu mandato.

Negócios

Uma semana antes do presidente americano desembarcar na Arábia Saudita, seu filho, Eric, fez um discurso perante um auditório lotado num centro de convenções em Dubai, tudo a respeito dos planos da empresa familiar para construir um hotel de 80 andares e uma arranha-céu residencial no país. Superlativo como o pai, se gabou de que o “ícone incrível redefiniria o luxo” e teria a piscina de borda infinita mais alta do mundo, com vista para o imponente edifício Burj Khalifa.

Esse foi um dos muitos eventos aos quais tanto Eric quanto Donald Trump Jr., que participou ativamente do primeiro mandato do pai, compareceram no Oriente Médio para promover seus negócios, que além de coberturas de luxo incluem criptomoedas. Sinal de que a família pretende continuar avançando com acordos internacionais, mesmo com o patriarca sendo responsável por liderar a política externa dos Estados Unidos na região.

Além disso, de acordo com o jornal americano The Washington Post, o Catar, para onde a comitiva americana se deslocará na quarta-feira, já pagou ao procurador-geral dos Estados Unidos, ao diretor do FBI e ao chefe da Agência de Proteção Ambiental (EPA), entre outros, para fazer lobby ou consultoria em nome do país e de sua família real.

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Presentes

Apesar de tudo, Trump continua a minimizar as preocupações com conflitos de interesse. Na segunda-feira, ele aceitou de presente da família real catari um Boeing 747-8 de R$ 2,2 bilhões, apelidado de “palácio no céu”, que substituirá o Air Force One como avião presidencial durante seu mandato e, quando deixar a Casa Branca, seria doado à sua fundação da biblioteca presidencial. O presidente e o vice-presidente estão isentos das leis de conflito de interesses, mas o chefe da Casa Branca é proibido por uma cláusula da Constituição americana de receber pagamentos de governos estrangeiros sem o consentimento do Congresso.

Já seria um cenário controverso, mas além disso, há duas semanas, o filho Eric firmou um acordo para construir um clube de golfe luxuoso à beira-mar, avaliado em US$ 5,5 bilhões, no Catar. Com um campo extenso, com dezoito buracos, e vilas luxuosas, levará o nome de Trump International Golf Club.

Em paralelo, os Emirados Árabes Unidos, onde o presidente americano, acabam de anunciar um investimento de US$ 2 milhões no empreendimento de criptomoedas da família Trump.

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Especialistas afirmam que as ações do presidente e seus filhos, já inéditas pela escala, são ainda mais perigosas porque são auxiliadas por um Congresso dominado pelos republicanos, bem como uma equipe de advogados poderosa capaz de achar brechas na interpretação das leis. Enquanto isso, a imprensa fica tão sobrecarregada pelos anúncios e medidas do governo que falha em acompanhar todos os intrincados conflitos de interesses.

Mas o governo rejeita qualquer sugestão de irregularidade. Durante uma coletiva de imprensa na última sexta-feira 9, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que era “francamente ridículo que alguém nesta sala sequer sugerisse que o presidente Trump está fazendo algo em benefício próprio. Ele deixou uma vida de luxo, administrando um império imobiliário de muito sucesso, em troca do serviço público”.

O Golfo

Os interesses comerciais da família Trump também se estendem à Sérvia, Albânia e Vietnã. Mas o aprofundamento dos laços da empresa com o Oriente Médio preocupa mais, segundo analistas, devido à conexão da região com a política externa do governo dos Estados Unidos. Ou seja, o público e o privado se sobrepõem de forma ainda mais inequívoca.

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Existe uma ampla gama de preocupações com a segurança da área: o futuro de Gaza, o programa nuclear do Irã e um acordo para normalizar as relações entre Arábia Saudita e Israel, antigo objetivo de Trump. Essas questões parecem ter sido escanteadas durante a turnê atual.

Membros do atual governo também estão mais conectados à região do Golfo do que no mandato anterior do republicano. A procuradora-geral Pam Bondi — que ajudou a redigir a análise da Casa Branca que concluiu que a doação do avião pelo Catar seria “legalmente permitida” — já havia feito lobby em favor da nação árabe.

Ainda não está claro se Trump será punido politicamente, com queda de apoio popular, por uma percepção geral de lapsos éticos. Afinal, ele foi eleito após sofrer dois impeachments e ser condenado por 34 crimes graves.

Em uma pesquisa da Faculdade de Direito da Universidade Marquette, quando perguntados se Trump “comportou-se de forma corrupta”, 61% dos entrevistados disseram pelo menos “um pouco”. Outro levantamento, da YouGov, mostrou que mais de 60% avaliam que a palavra “corrupto” se aplicava a Trump – para 46%, se aplica “muito”, e para 18%, se aplica “um pouco” (18%).

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