14 de maio de 2025

Votorantim Cimentos faz trimestre de ‘manutenção’, mas segue com caixa para investir

Tradicionalmente, o primeiro trimestre é o mais fraco do ano para a Votorantim Cimentos — com menor geração de caixa e impacto limitado no lucro consolidado. Com fábricas em manutenção, calendário encurtado pelo Carnaval no Brasil e inverno rigoroso no Hemisfério Norte, os três primeiros meses de 2025 serviram também para uma espécie de manutenção no balanço da maior fabricante de cimentos do país.

A companhia registrou prejuízo líquido de R$ 325 milhões no trimestre, ante lucro de R$ 17 milhões um ano antes. Apesar do resultado negativo no bottom line, o CEO Osvaldo Ayres afirma que o desempenho foi consistente: as vendas subiram, o capex avançou 35% e a alavancagem seguiu sob controle.

Segundo o CFO, Antonio Pelicano, a empresa concentrou neste início de ano uma série de ajustes contábeis, como a revisão da vida útil de ativos — o que elevou em 64% a depreciação, para R$ 742 milhões. Além disso, houve o reconhecimento de uma perda de R$ 81 milhões com a venda da operação na Tunísia e o pagamento de R$ 554 milhões em dividendos extraordinários para o grupo Votorantim.

A receita líquida cresceu 1% na comparação anual, somando R$ 5,6 bilhões. As vendas globais de cimento chegaram a 7,7 milhões de toneladas, avanço de 2%. Já o lucro operacional (Ebitda) ajustado foi de R$ 598 milhões, com queda de 14% em moeda local. A margem caiu dois pontos, para 11%.

Vendas de cimento

O mercado brasileiro foi novamente o principal motor da companhia, com receita de R$ 3,1 bilhões (alta de 5%). “Estamos vendo uma reação importante do Minha Casa Minha Vida, do varejo e também de concessões e infraestrutura”, diz Ayres. O Ebitda local foi de R$ 427 milhões, queda de 17% frente ao mesmo período do ano anterior, refletindo as paradas técnicas nas fábricas.

Osvaldo Ayres, CEO da Votorantim Cimentos Osvaldo Ayres, CEO da Votorantim Cimentos
Osvaldo Ayres, CEO da Votorantim Cimentos (Divulgação)

Nos Estados Unidos, o clima adverso e as manutenções derrubaram o Ebitda para R$ 136 milhões negativos. Já na Europa, Ásia e África, a receita cresceu 2% e o Ebitda avançou 33% em moeda local, puxado por bons resultados na Espanha e na Turquia. 

Na África, a operação da Tunísia foi descontinuada, e a venda dos ativos no Marrocos está em fase final de conclusão. Na América Latina, o desempenho foi positivo na Bolívia e levou a uma alta de 6% no Ebitda da região.

Investimentos

O capex totalizou R$ 548 milhões no trimestre, com destaque para os projetos de expansão em Salto de Pirapora (SP) e Edealina (GO), no Brasil. A companhia também iniciou a modernização de fornos nas unidades de Málaga e Alconera, na Espanha, com foco na substituição de combustíveis fósseis.

Mesmo com todas as variáveis externas bastante voláteis e desafiadoras, a gente fica muito orgulhoso de manter o pé acelerado no ritmo de investimentos, porque isso nos posiciona para capturar oportunidades ou lidar com desafios que apareçam”, diz Ayres.

Uma das oportunidades que a Votorantim Cimentos segue monitorando é o desfecho da recuperação extrajudicial da InterCement, que pode desembocar na venda de alguns ativos no Brasil. A Votorantim Cimentos chegou a fazer uma proposta no ano passado, mas as conversas não avançaram.

Gestão da dívida

A alavancagem, medida pela relação dívida líquida/Ebitda, ficou em 1,95 vez, ligeiramente acima dos 1,86x registrados no mesmo período de 2024. O caixa encerrou o trimestre em R$ 4,1 bilhões, valor suficiente para cobrir as obrigações financeiras pelos próximos três anos.

Em maio, a companhia também emitiu R$ 1 bilhão em debêntures, com vencimento em 2032 e custo de DI + 0,67% ao ano — reforçando a estratégia de alongamento da dívida com custo competitivo. “Estamos com uma maturidade média de dívida de sete anos”, afirmou Pelicano.

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