Documentos do governo dos Estados Unidos revelaram que líderes da América Latina e do Caribe investiram milhões de dólares num lobby para influenciar diretamente a administração do presidente americano, Donald Trump. Na lista de pedidos, avançados por meio de contratos com firmas do alto escalão em Washington, estão acordos de livre comércio, investimentos energéticos, assistência em segurança e até apoio político, de acordo com uma análise divulgada pelo jornal britânico The Guardian nesta sexta-feira, 16.
Desde a corrida eleitoral que levou Donald Trump de volta à Casa Branca, registros do Departamento de Justiça mostram que ao menos dez países latino-americanos registraram seus principais representantes sob a Lei de Registro de Agentes Estrangeiros (FARA), que exige transparência nas atividades de lobby por parte de governos estrangeiros.
Líderes beneficiados
O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, é apontado como um dos que mais colheram frutos do investimento em lobby. Em três anos, gastou US$ 1,5 milhão e garantiu um encontro no Salão Oval, um acordo de energia nuclear, apoio dos Estados Unidos para expandir sua megaprisão – que usa para encarcerar quem quer que o governo diga ser um gângster e agora empresta para Trump aportar deportados –, bem como uma melhora na classificação de segurança para viagens, que é emitida pelo Departamento de Estado americano.
Outro exemplo é o presidente argentino, Javier Milei, que gastou dezenas de milhares de dólares em um jantar com Trump em Mar-a-Lago e dividiu o palco com Elon Musk na CPAC, conferência que reúne a ultradireita global, em Washington. Os esforços ajudaram o líder argentino a destravar um acordo de US$ 20 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI), apoiado pelos Estados Unidos, e garantir uma visita do secretário do Tesouro, Scott Bessent, a Buenos Aires, além da expectativa de uma visita do próprio Milei à Casa Branca e um acordo comercial em breve.
No Equador, o presidente Daniel Noboa contratou a Mercury Public Affairs, uma empresa de comunicação estratégica voltada para lobby, e garantiu uma reunião com Trump em Mar-a-Lago, o aumento das remessas de armas para enfrentar a crise de segurança no país e uma avaliação positiva da inteligência dos Estados Unidos sobre sua candidatura, poucos dias antes de vencer a eleição presidencial.
Apesar da América Latina não liderar os gastos globais com lobby em Washington, o crescente investimento indica uma mudança de postura.
Nomes como Damian Merlo, argentino-americano do LATAM Advisory Group (LAG) e ex-assessor de Milei e Bukele, e Carlos Trujillo, ex-embaixador dos Estados Unidos na Organização dos Estados Americanos (OEA), se destacam como peças-chave da rede de influência. Trujillo, atualmente à frente da consultoria Continental Strategy, representa governos como os do Haiti, República Dominicana e Guiana — clientes que coincidem com viagens recentes do secretário de Estado americano, Marco Rubio, à região caribenha.
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