21 de maio de 2025

Trump acusa presidente da África do Sul de ‘genocí…

O que começou como um encontro cordial entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, rapidamente se deteriorou após um repórter questionar Trump sobre a decisão do governo americano de conceder refúgio a sul-africanos brancos.

Sem apresentar evidências, Trump afirmou que estaria ocorrendo um genocídio contra pessoas brancas na África do Sul — uma alegação fortemente negada por Ramaphosa e por diversas autoridades do país africano.

A tensa reunião desta quarta-feira marca mais um episódio de encontros conturbados entre Trump e líderes estrangeiros no Salão Oval.

O clima entre os dois países se agravou nas últimas semanas, em meio a declarações de Trump e do bilionário Elon Musk, que questionam as políticas de equidade racial da África do Sul.

A polêmica levou o governo dos EUA a aceitar recentemente 59 sul-africanos brancos como refugiados — enquanto recusou pedidos de refúgio de cidadãos de outras nações.

Nascido na África do Sul, Musk tem sido um dos principais propagadores da ideia de que há um genocídio em curso contra brancos no país — narrativa que Trump passou a adotar.

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Ao ser questionado por repórteres sobre essas alegações, Trump interrompeu a coletiva para exibir, em uma televisão na sala, uma montagem de vídeos que, segundo ele, comprovariam suas declarações. As imagens mostravam pessoas fazendo declarações violentas, como “cortar a garganta” ou “atirar em brancos”.

Ramaphosa respondeu dizendo que os vídeos não representam a posição do governo sul-africano. Mais tarde, o ministro da Agricultura da África do Sul afirmou que vários indivíduos que aparecem nos vídeos pertencem a partidos minoritários que não integram a coalizão governista.

— Temos uma democracia multipartidária na África do Sul que permite a livre expressão — afirmou o ministro.

Ao ser perguntado se condenava o conteúdo dos vídeos, Ramaphosa respondeu:
— Ah, sim.

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Mais cedo, ao ser indagado pela NBC News sobre a política de concessão de refúgio a sul-africanos brancos, Trump afirmou que “muitas pessoas estão muito preocupadas com a situação na África do Sul”.

— Aceitamos refugiados de diversos locais, se entendermos que há perseguição ou genocídio em curso — declarou o presidente.

Musk participou da reunião ao lado de vários membros do gabinete de Trump. Crítico ferrenho de seu país natal, o empresário tem reforçado a retórica de que os afrikaners — descendentes brancos de colonizadores holandeses e franceses — estariam sendo alvo de perseguição racial. No entanto, não há dados que sustentem a existência de um genocídio.

Na semana passada, Ramaphosa se pronunciou em um vídeo publicado na plataforma X:

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— Todos nós, sul-africanos, negros e brancos, sabemos que não há genocídio aqui. Não somos um povo genocida. Não estamos cometendo nenhum ato de ódio, vingança ou violência contra ninguém.

Durante o encontro, Trump chegou a dizer que Ramaphosa era “menos respeitado em certos círculos”:

— Ele é um homem que, certamente, em alguns meios, é muito respeitado — declarou Trump. — Em outros, um pouco menos, como todos nós, para ser justo.

Ramaphosa reagiu com bom humor:
— Somos todos assim — disse, rindo.

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Segundo a Associated Press, 12 assassinatos ocorreram em fazendas na África do Sul no ano passado. Apenas uma das vítimas era fazendeiro; os demais eram trabalhadores rurais. As estatísticas não identificaram as vítimas por raça. Dados oficiais indicam que agricultores brancos ainda detêm cerca de 75% das terras privadas no país.

Outro ponto de atrito entre os dois países é a Lei de Expropriação aprovada em 2024 na África do Sul, que permite ao governo, em alguns casos, confiscar terras não utilizadas sem compensação, em nome do interesse público — mecanismo semelhante ao de domínio eminente nos EUA.

Em fevereiro, Ramaphosa afirmou que seu governo não confiscou nenhuma terra:

— A nova Lei de Expropriação não é um instrumento de confisco, mas um processo legal previsto na Constituição que visa garantir o acesso justo e equitativo à terra — disse ele, também na plataforma X.

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Ainda assim, a Casa Branca criticou a legislação, classificando-a como “um desprezo chocante pelos direitos dos cidadãos” e acusando-a de fomentar “violência desproporcional contra proprietários de terras racialmente desfavorecidos”.

Durante o regime do apartheid, encerrado em 1994, os afrikaners governaram o país com base em segregação racial e expropriação de terras de moradores negros.

Musk também afirmou que sua empresa de internet via satélite, Starlink, “não pode operar na África do Sul porque não sou negro”. No entanto, o serviço precisaria de licenças específicas para atuar no país, que possui regulamentações que exigem a inclusão de grupos historicamente desfavorecidos na propriedade de empresas estrangeiras de telecomunicações.

As tensões entre os dois países também se intensificaram no cenário internacional. A África do Sul lidera uma ação no Tribunal Internacional de Justiça das Nações Unidas acusando Israel de genocídio contra os palestinos em Gaza.

A Casa Branca mencionou essas acusações no decreto assinado por Trump em fevereiro, que centraliza a política de acolhimento a refugiados afrikaners. Segundo o texto, “a África do Sul adotou posturas agressivas em relação aos Estados Unidos e seus aliados”.

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