22 de maio de 2025

UE aumenta pressão e anuncia que revisará laços co…

A União Europeia (UE) anunciou nesta quarta-feira, 21, que revisará os laços comerciais com Israel devido à crise humanitária palestina, resultado da campanha militar israelense na Faixa de Gaza. A chefe de política externa do bloco, Kaja Kallas, afirmou que Comissão Europeia, braço executivo da UE, reavaliará o Acordo de Associação UE-Israel, que regula as relações políticas e econômicas entre os dois lados através do livre comércio. A decisão, segundo ela, foi aprovada por uma “forte maioria” dos ministros dos 27 países membros.

“A situação em Gaza é catastrófica. A ajuda que Israel permitiu a entrada é, obviamente, bem-vinda, mas é uma gota no oceano. A ajuda deve fluir imediatamente, sem obstrução e em grande escala, porque é disso que precisamos”, disse Kallas a repórteres em Bruxelas.

As críticas feitas por Kallas foram rechaçadas pelo ministro do Exterior de Israel, Oren Marmorstein. No X, antigo Twitter, ele afirmou que Tel Aviv rejeita completamente a direção tomada na declaração, que reflete uma total incompreensão da complexa realidade que Israel está enfrentando” e destacou que “esta guerra foi imposta a Israel pelo Hamas, e o Hamas é o responsável por sua continuação”.

A movimentação da UE ocorre um dia após o governo britânico suspender as negociações de livre comércio com Israel e impor novas sanções contra assentamentos na Cisjordânia. Na segunda-feira, 19, Reino Unido, França e Canadá ameaçaram “ações concretas” contra Israel em comunicado. O trio também se opôs “a qualquer tentativa de expandir os assentamentos na Cisjordânia” e afirmou que, apesar de apoiar o direito de defesa israelense, não ficaria “de braços cruzados enquanto o governo (de Benjamin) Netanyahu realiza essas ações atrozes”.

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Subida de tom

O alerta foi seguido por uma declaração conjunta assinada por 22 países, que exige que Israel passe a “permitir a retomada total da ajuda a Gaza imediatamente e permitir que a ONU e as organizações humanitárias trabalhem de forma independente e imparcial para salvar vidas, reduzir o sofrimento e manter a dignidade”.

“Quero deixar registrado hoje que estamos horrorizados com a escalada de Israel”, reforçou o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, ao Parlamento do Reino Unido nesta terça-feira. “Precisamos coordenar nossa resposta, porque esta guerra já dura tempo demais. Não podemos permitir que o povo de Gaza morra de fome.”

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Além disso, Starmer repetiu o apelo para um cessar-fogo em Gaza e argumentou que uma trégua era a única forma de libertar os reféns mantidos pelo grupo palestino radical Hamas. Ele disse, ainda, que a a quantidade básica de ajuda humanitária permitida por Israel é “completamente inadequada”.

Trata-se de um aumento do tom de uma gama de países contra a campanha militar israelense em Gaza. Ainda na segunda-feira, o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sanchez, também apelou para que Israel seja excluído de eventos culturais internacionais. Ele destacou que não se deve “permitir padrões duplos, nem mesmo na cultura” e criticou aqueles que defendem “um setor cultural insípido, silencioso e equidistante”.

“Acredito que ninguém ficou chocado há três anos, quando a Rússia foi solicitada a se retirar de competições internacionais após a invasão da Ucrânia e a não participar, por exemplo, do Eurovision. Portanto, Israel também não deveria fazer isso”, opinou o premiê espanhol.

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Entrada de ajuda humanitária

As Forças de Defesa de Israel (FDI) aceitaram a entrada nesta segunda-feira de caminhões com suprimentos em Gaza, poucas horas depois de Netanyahu anunciar, em meio à forte pressão internacional, a liberação do transporte de mantimentos, que estava bloqueado desde 2 de março. Ao todo, segundo as FDI, cinco caminhões com itens que incluem alimentos para bebês entraram no enclave palestino pela travessia de Kerem Shalom, na tríplice fronteira entre Israel, Egito e Faixa de Gaza.

Antes do anúncio, o primeiro-ministro israelense havia afirmado que Israel irá “tomar controle” de toda a Faixa de Gaza, na esteira do anúncio da retomada de operações terrestres no final de semana e de extensos ataques aéreos que deixaram mais de 100 mortos e destruíram instalações médicas no norte do enclave no domingo, 18.

Na terça-feira, 20, as Nações Unidas afirmaram que ainda nenhuma ajuda humanitária foi distribuída na Faixa de Gaza, um dia após o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, permitir a entrada de suprimentos pela primeira vez desde 2 de março. O porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, disse que dezenas de caminhões de farinha, remédios e suprimentos nutricionais entraram no enclave, mas que o processo israelense de verificação tem sido lento, enquanto quase toda a população de Gaza enfrenta “risco crítico” de fome.

“As autoridades israelenses estão exigindo que descarreguemos suprimentos no lado palestino da passagem de Kerem Shalom e os recarreguemos separadamente assim que garantirem o acesso da nossa equipe de dentro da Faixa de Gaza”, explicou Dujarric, ao informar a demora para a distribuição dos produtos.

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“Hoje, uma de nossas equipes esperou várias horas pela autorização israelense para acessar a área de Kerem Shalom e coletar os suprimentos nutricionais. Infelizmente, eles não conseguiram trazer esses suprimentos para o nosso depósito”, acrescentou na ocasião.

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Fome generalizada

A população da Faixa de Gaza, composta por 2,3 milhões de pessoas antes da guerra, está em “risco crítico” de fome e enfrenta “níveis extremos de insegurança alimentar”, apontou um relatório da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), apoiada por agências das Nações Unidas, grupos de ajuda e governos.

O documento indicou que o cesar-fogo, que durou de janeiro a março, “levou a um alívio temporário” em Gaza, mas as novas hostilidades israelenses “reverteram” as melhorias. Cerca de 1,95 milhão de pessoas, ou 93% da população de Gaza, vivem níveis de insegurança alimentar aguda. Desse número, mais de 244 mil enfrentam graus “catastróficos”. A fome generalizada, segundo a pesquisa, é “cada vez mais provável” no território. No momento, meio milhão de palestinos, um em cada cinco, estão famintos em Gaza.

 

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