O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, ameaçou nesta terça-feira, 27, aplicar medidas contra Israel devido à campanha militar na Faixa de Gaza. O alerta ocorre um dia após o chanceler Friedrich Merz afirmar que a luta contra o grupo radical Hamas já não justifica a guerra no enclave palestino, iniciada em outubro de 2023. Trata-se de uma mudança de tom, já que o Berlim atua com cautela em críticas a Tel Aviv por “questões históricas”, segundo Merz, em referência à Alemanha Nazista.
“Nossa luta comprometida contra o antissemitismo e nosso total apoio ao direito de existir e à segurança do Estado de Israel não devem ser instrumentalizados para o conflito e a guerra atualmente travados na Faixa de Gaza”, disse Wadephul à emissora alemã WDR. “Estamos agora em um ponto em que temos que pensar muito cuidadosamente sobre quais medidas tomar.”
“Onde vemos perigos de danos, é claro que interviremos e certamente não forneceremos armas para que não haja mais danos”, acrescentou ele, informando que nenhuma nova encomenda de armamentos da Alemanha para Israel estava sendo considerada no momento.
Na véspera, Merz frisou que “quando os limites são ultrapassados, quando o direito internacional humanitário é violado, então, o chanceler alemão também deve se manifestar” e anunciou que telefonaria para o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, para pedir a ele “não exagerar”. Mais de 53 mil palestinos foram mortos desde o início do conflito e quase toda a população de Gaza enfrenta “risco crítico” de fome e “níveis extremos de insegurança alimentar”, de acordo com a Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC).
“Prejudicar a população civil dessa forma, como tem acontecido cada vez mais nos últimos dias, não pode mais ser justificado como uma luta contra o terrorismo do Hamas”, argumentou o chanceler alemão em entrevista à WDR. “Não entendo mais o que o Exército israelense está fazendo na Faixa de Gaza, com que objetivo a população civil está sendo impactada dessa forma.”
Embora tenha destacado que a Alemanha continuará a ser “o parceiro mais importante de Israel na Europa”, Merz disse que “o governo israelense não deve fazer nada que seus melhores amigos não estejam mais dispostos a aceitar”. Ataques de Israel contra Gaza mataram mais de 50 pessoas nesta segunda-feira, sendo 33 delas deslocados que se abrigavam em uma escola, segundo a Defesa Civil do território palestino. Bombardeios separados foram registrados em Khan Younis, no sul, Jabalia, no norte, e Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza.
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Críticas generalizadas
Trata-se de um aumento do tom de uma gama de países contra operações israelenses em Gaza. A União Europeia (UE) anunciou na última quarta-feira, 21, que revisará os laços comerciais com Israel devido à crise humanitária palestina. A chefe de política externa do bloco, Kaja Kallas, afirmou que Comissão Europeia, braço executivo da UE, reavaliará o Acordo de Associação UE-Israel, que regula as relações políticas e econômicas entre os dois lados através do livre comércio.
A decisão, segundo ela, foi aprovada por uma “forte maioria” dos ministros dos 27 países membros. A movimentação da UE ocorreu um dia após o governo britânico suspender as negociações de livre comércio com Israel e impor novas sanções contra assentamentos na Cisjordânia. Na semana passada, Reino Unido, França e Canadá ameaçaram “ações concretas” contra Israel em comunicado.
O trio também se opôs “a qualquer tentativa de expandir os assentamentos na Cisjordânia” e afirmou que, apesar de apoiar o direito de defesa israelense, não ficaria “de braços cruzados enquanto o governo (de Benjamin) Netanyahu realiza essas ações atrozes”.
O alerta foi seguido por uma declaração conjunta assinada por 22 países, que exige que Israel passe a “permitir a retomada total da ajuda a Gaza imediatamente e permitir que a ONU e as organizações humanitárias trabalhem de forma independente e imparcial para salvar vidas, reduzir o sofrimento e manter a dignidade”.
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