Em 2022, Elden Ring surpreendeu a crítica e o público com a escala épica de suas apostas – seja na jogabilidade ou no enredo. Dirigido por Hidetaka Miyazaki e co-escrito por George R. R. Martin, autor de Game of Thrones, o jogo rapidamente se tornou um sucesso estelar, com mais de 12 milhões de cópias vendidas apenas no primeiro mês. Sem precedentes, seu impacto oficializou o gênero soulslike para além de um mero nicho, servindo de inspiração para muitos outros lançamentos nos anos seguintes.
Graças à repercussão, Elden Ring também se tornou o primeiro soulslike de muitos jogadores, que foram bem-recebidos com um detalhado mapa de mundo aberto. Nele, cada campanha possuía o próprio ritmo, já que não há linearidade obrigatória, algo que favorecia a exploração e experimentação de mecânicas. Para os veteranos, o título logo virou a recomendação para os novatos com interesse de experimentar o gênero.
Neste ano, expandindo a franquia e o conceito de acessibilidade para novos jogadores, a FromSoftware apresenta Elden Ring Nightreign. Com uma fórmula simplificada, mas fiel ao jogo base, o título tem um foco maior em partidas casuais e cooperativas, incorporando elementos do gênero roguelike em sua jogabilidade. Contudo, será que a mistura realmente funciona?
A seguir, você confere nossa review de Elden Ring Nightreign, com detalhes de jogabilidade e sem spoilers da narrativa. Como de costume, avaliaremos o título a partir de sua proposta, e o quanto se aproximou de cumpri-la. Para isso, jogamos por cerca de 20 horas, entre partidas no modo solo e cooperativo em trios.
- Elden Ring Nightreign foi avaliado a partir de uma chave gentilmente cedida pela Bandai Namco, na versão de PC. A máquina utilizada para o teste é um Alienware M16 R1, equipado com um Core i9-13900HX e GeForce RTX 4070, fornecido pela Dell. Todas as configurações gráficas estão no máximo, com a resolução definida para 1440x2160p.
Um Elden Ring para os fãs de Fortnite
Antes de mais nada, vamos recapitular e apresentar Elden Ring Nightreign. Partindo das mesmas bases que o título original, o novo lançamento da FromSoftware ainda se trata de um soulslike, mas agora traz elementos de um roguelike. Em termos mais simples, é um jogo de combate complexo e desafiador, em que o progresso do personagem é reiniciado ao fim de cada partida. Assim como em Hades ou The Binding of Isaac, o jogador deverá contar com a sorte e boas habilidades de exploração para coletar itens e armamentos – que, inclusive, também possuem um sistema de raridade.

Para deixar as partidas mais acirradas, os jogadores deverão se preocupar com a chegada da Maré da Noite, que limita a exploração a aproximadamente 10 minutos por rodada. Esse sistema funciona como o gás de Warzone ou a tempestade de Fortnite, fechando o mapa em círculos e forçando a rotação de maneira aleatória. Caso fique na área afetada, sofrerá uma enorme quantidade de dano por segundo.

Ao todo, são três dias jogados por partida. Durante os dois primeiros, enquanto há luz solar, os jogadores podem coletar equipamentos e enfrentar inimigos poderosos, morrendo quantas vezes forem necessárias. Quando a noite chega, há o combate obrigatório contra um chefe, em que a morte se torna permanente.
Adiante, no último dia, os jogadores desafiam diretamente um dos Lordes da Noite, os alvos de cada expedição. Ao fim do combate, é possível coletar relíquias com atributos aleatórios, que funcionam como uma espécie de melhoria permanente para os heróis.
O elenco de heróis
Outra importante diferença entre Elden Ring e Nightreign é o sistema de personagens. Enquanto no original era possível criar seu próprio herói, desde a aparência até atributos predefinidos, o novo jogo traz “classes” prontas. Além disso, também não é possível escolher qual atributo melhorar individualmente, já que o sistema de escala é fixado. Assim, passar de nível ficou tão simples quanto apertar um botão.

Nesse contexto, a variedade fica por conta das funções e estilo de jogo dos oito heróis disponíveis, chamados de Notívagos ou Nightfarers. Cada um deles possui três habilidades, sendo uma passiva, uma ativa e uma suprema, sendo úteis de maneira ofensiva ou defensiva. Idealmente, por ser focado no modo multijogador, os trios devem considerar uma composição com vantagens que se complementem.
Potencial resumido e simplificado
Se minha descrição sobre Elden Ring Nightreign pareceu um resumo, não é por acaso. Logo de imediato, o título passa a impressão de que foi simplificado para uma nova audiência, buscando tornar a fórmula da FromSoftware mais casual e acessível. No entanto, esse processo também pareceu torná-lo um tanto mais simplório e até raso.
Durante as vinte horas acumuladas de jogabilidade, toda a experiência pareceu bastante limitada, e com muito potencial desperdiçado. Talvez, o principal agravante seja que toda a progressão permanente dos personagens está nas relíquias, que podem ser compradas ou recebidas no fim de cada partida. Elas possuem atributos completamente aleatórios, sendo um sistema que exige inúmeras tentativas até encontrar algo realmente útil para seu estilo de jogo.

A adoção dessa mecânica, praticamente baseada em sorte, não é um problema nas Masmorras de Bloodborne, por exemplo, já que funcionam como um desafio extra. Contudo, quando ela é a principal forma de progressão em um título, não há outra justificativa a não ser a extensão artificial de tempo de jogo – se você quer bons itens, terá que passar muitas horas em expedições.
Isoladamente, essa decisão de design pode não parecer tão ruim. No entanto, quando somado ao fato de que a disponibilidade de armas e seus efeitos também são baseadas em sorte, as coisas começam a tomar outra perspectiva – uma um tanto predatória. Claro, há muitos outros roguelikes que funcionam dessa maneira, mas também há tantos outros que implementam sistemas melhores de progressão. De imediato, cito Hades e Dead Cells, que não abrem mão da dificuldade e oferecem um claro senso de melhorias.

Em Nightreign, seria ótimo conseguir melhorar a arma inicial, mudar seu atributo ou habilidade. Talvez, melhorar algumas características de cada herói permanentemente, sempre que um chefe for eliminado. Quem sabe, até, desbloquear um personagem próprio após certo tempo – um que possibilitasse ajustar a escala de atributos manualmente. Nenhuma dessas ideias é complexa demais para novos jogadores, ou simples demais para os veteranos – mas nada disso está disponível.
Quando comparado a um soulsborne, nome dado aos ‘soulslikes originais’ da FromSoftware, Nightreign compartilha poucas características além da dificuldade ou das referências. De modo geral, esses jogos do estúdio sempre foram populares pela jogabilidade baseada na “tentativa e erro”, e cada desafio superado era sentido como um mérito de esforço. O novo lançamento, contudo, baseia muito de sua progressão em sorte e capacidade de explorar, já que até mesmo os mapas são modificados aleatoriamente.
Diante disso, Nightreign começa parecer uma ideia estranha para os fãs de longa data, e uma porta de entrada bastante confusa para possíveis novos fãs do gênero – ou seja, para quem, afinal, é o título?
As noites traiçoeiras de Elden Ring Nightreign
E como esse design de jogabilidade funciona na prática? Bom, neste tópico, é importante esclarecer algumas coisas. A primeira delas é que, durante a análise, apenas dois modos estavam disponíveis: em trios ou solo, ambos sem opção de crossplay. Passei estimadamente dez horas em cada um deles – e afirmo que são dois jogos inteiramente diferentes.
Começando pelo modo solo, o primeiro que testei: foi uma das experiências mais frustrantes que já tive. Mecanicamente, tudo funcionou muito bem. Os ataques conectavam, as habilidades são criativas e as animações eram fluidas. No entanto, o balanceamento dos inimigos parecia inexistente, tornando a expedição praticamente impossível.

Talvez, você tenha jogado as versões de teste de rede, e esteja estranhando a afirmação – pois é, eu também estranhei. O nível de dificuldade parece ter sido aumentado desproporcionalmente desde então, tornando a experiência solo em um pesadelo. Se antes era comum chegar ao menos até o chefe da última noite, independente da classe escolhida, se tornou algo bastante raro nesta versão avaliada.
Contudo, a maior frustração vem somente a seguir: após cada tentativa, a recompensa oferecida era mínima. As relíquias, conforme citadas anteriormente, pouco melhoram as chances de vitória para justificar o esforço. Ainda assim, testei muitas classes, variações, e não obtive sucesso em nenhuma expedição no modo solo.

Naturalmente, essa confissão é um prato cheio para afirmar: “mas aí é um problema entre a tela e o controle, não?”. Talvez, mas, para todos os efeitos, vale deixar claro que já passei centenas de horas nos jogos da FromSoftware, além de já ter platinado outros títulos no gênero como Lies of P – duas vezes.
A meu ver, enquanto é possível se adaptar ao ciclo de exploração em Nightreign, as chances de vitória dependem muito mais da sorte do que das mecânicas de jogabilidade. Na prática, a maior recompensa vinda do combate é, curiosamente, não morrer – que, neste jogo, remove um precioso nível. E com o nível mais baixo, é impossível usar armas melhores, além dos atributos serem menores.

Lembra da ideia de tentativa e erro, aprender o conjunto de golpes inimigos, e prosperar? Em Nightreign, esse conceito entra em segundo plano, já que é mais importante avaliar qual luta vale o risco de perder um nível. Tudo isso sob a pressão da Maré da Noite, que funciona como um grande temporizador.
Todo esse conjunto de características cria partidas de ritmo altíssimo, com pouco espaço para erro e alta dependência da sorte. Em boas expedições, é possível equipar-se em um bom nível, com equipamentos poderosos, mas tudo pode acabar em frações de segundo – e nada do progresso ou da dedicação importará mais. É tão amargo quanto soa, e muitas vezes cogitei parar de jogar.
Vale lembrar que a FromSoftware confirmou que há uma diminuição de vida dos inimigos no modo solo, quando comparado ao modo trios. Contudo, também sugeriu que Elden Ring Nightreign “é mais divertido em time” – na verdade, eu diria que ele somente funciona assim.
Um jogo, duas medidas
Após quase desistir de Nightreign, iniciei os testes do modo trio. Rapidamente, o balanceamento passou a fazer sentido, e a jogabilidade tornou-se muito mais agradável. Com o apoio dos outros membros de equipe, não demorou para vencermos as duas primeiras expedições. A diferença foi tão simples e direta, como descrito.
Claro, os problemas citados anteriormente quanto ao sistema de progressão e as relíquias continuaram, mas, ao menos, as partidas se tornaram mais divertidas. Acredito que muito disso se deva à interação com os outros jogadores, neste caso, através do Discord, que possibilitou criar estratégias e coordenar ataques.

Porém, esse lado positivo também reflete outro grande problema de Nightreign: não há sistema de comunicação interna, por chat ou por voz. Para piorar, também não há um sistema robusto de marcações, como em Fortnite ou Apex Legends – é possível apenas “pingar” um local ou item, sem sugerir intenção. Além disso, também não há como adicionar jogadores diretamente pelo jogo, apenas combinar salas fechadas ou convite de amigos adicionados.
Considerando a complexidade das mecânicas entre as classes, e a importância da comunicação entre jogadores, a ausência desses recursos beira ao absurdo. Se a proposta de Nightreign era simplificar a fórmula soulsborne para um novo público, há de se esperar meios de comunicação mais eficientes que emotes e marcações no chão.
Apesar de tudo, ainda é um jogo original da FromSoftware
Mesmo após tantas críticas, é importante reconhecer os méritos da FromSoftware neste título. Tanto nos visuais, quanto na trilha sonora e nas mecânicas de jogabilidade, Elden Ring Nightreign mantém o padrão altíssimo de qualidade esperado do estúdio. A direção de arte segue impecável, como no primeiro jogo e na sua DLC, trazendo paisagens exuberantes e de uma realidade puramente fantástica.
As batalhas contra os chefes seguem o ponto forte da fórmula, trazendo trilhas sonoras épicas e grandiosas, que promovem uma imersão só encontrada nos jogos da FromSoftware. Dessa maneira, até os encontros mais casuais durante a exploração do mapa podem se tornar marcantes, já que estão suscetíveis à ameaça do tempo – e cada segundo importa desta vez.

Possivelmente, essas críticas ganham mais peso por Nightreign ter ousado a se distanciar da fórmula original, em direção a um mercado cada vez mais saturado de jogos multiplayer. Ao não se comprometer genuinamente nem com essa mudança, nem com suas raízes, o título soa, por muitas vezes, incoerente e aquém de seu potencial.
Contudo, é inegável que Elden Ring Nightreign possa ser divertido nas condições ideais – ainda que o jogo não as promova por conta própria. A ausência de sistemas robustos de comunicação ou marcação no mapa, além da falta de interfaces para interação entre usuários, sugere que a FromSoftware talvez tenha se precipitado em uma aposta focada em multijogadores.
Elden Ring Nightreign vale a pena?
Se Elden Ring aperfeiçoou a fórmula clássica dos jogos da FromSoftware, Nightreign certamente tenta traduzi-la para a era dos multiplayers. Embora muito do charme original tenha se perdido no processo, como ocorre em qualquer tradução, ainda é possível aproveitá-lo à sua própria maneira.
No entanto, frente a inexperiência da FromSoftware diante de jogos voltados para multiplayer, é difícil recomendar Elden Ring Nightregin como uma compra certa – especialmente para os novatos no gênero. Embora os problemas de balanceamento no modo solo sejam perfeitamente corrigíveis em futuras atualizações, é difícil imaginar o título ganhando um sistema realmente moderno de comunicação.

Além disso, há de se considerar que, mesmo diante de um possível sucesso inicial, nada garante que será fácil encontrar jogadores para cooperar após um ou dois anos de vida útil. Por esse motivo, a experiência negativa do modo solo pesa tanto: afinal, o que acontecerá se ele for o único disponível no futuro?
Por fim, embora Elden Ring Nightreign consiga divertir e não se apresente como um jogo Triple A, ele ainda custa R$ 200 em sua versão mais barata. Para os novatos que desejam se aventurar no gênero, tanto o jogo original quanto qualquer outro soulsborne oferecerá uma experiência maior e melhor. Para os veteranos que desejam retornar às Terras-Intermédias, talvez valha esperar um pouco mais até ter a certeza de uma boa viagem.
Seja pelo medo de descaracterizar sua fórmula, ou pela inexperiência ao se adaptar ao público moderno, Elden Ring Nightreign decepciona. Não por ser um jogo ruim, mas porque poderia ter sido excelente.
Nota de Elden Ring Nightreign – 75
Elden Ring Nightreign é um bom jogo, mas com problemas.
Pontos positivos
- Direção de arte segue padrão da FromSoftware e impressiona;
- Trilha sonora mantém a altíssima qualidade esperada do estúdio;
- Personagens jogáveis possuem ampla variedade de estilos e funções;
- A novas habilidades individuais casam bem com o estilo de jogo e são criativas;
- Tecnicamente, a jogabilidade é fluída e o combate é bem polido;
- Jogar em grupo, com habilidades se complementando, é bastante divertido.
Pontos negativos
- Balanceamento para o modo solo decepciona, e parece inexistente;
- Ausência de sistemas ‘modernos’ de comunicação, como chats de texto e voz;
- Ausência de um sistema mais robusto e descritivo de marcações;
- Sistema de progressão permanente é simplório, e baseado em sorte;
- Ausência de crossplay entre consoles e PCs;
- Ausência de modo para duplas no lançamento;
- Curva de dificuldade parece artificial e incoerente.
Elden Ring Nightreign chega em 30 de maio no PC, PS5 e Xbox Series S e X.
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