A crise humanitária na Faixa de Gaza se agravou na última terça-feira (28), quando tropas israelenses abriram fogo contra uma multidão faminta que tentava acessar alimentos em um centro de distribuição controlado por um grupo logístico apoiado por Israel.
Segundo autoridades de saúde palestinas, ao menos uma pessoa morreu e outras 48 ficaram feridas — a maioria por disparos, conforme confirmou o Escritório de Direitos Humanos da ONU nos Territórios Palestinos.
O caos começou quando milhares de palestinos avançaram sobre as cercas do novo centro de distribuição de ajuda em Rafah, gerido pela Gaza Humanitarian Foundation (GHF), organização escolhida por Israel para assumir o fornecimento de alimentos no enclave.
A fundação, no entanto, não conseguiu conter a multidão e sua equipe precisou abandonar o local temporariamente. Em meio ao tumulto, um helicóptero militar israelense lançou sinalizadores, e testemunhas relataram rajadas de tiros.
Vídeos do momento mostram civis, entre eles mulheres e crianças, correndo em pânico e sendo pisoteados.
A nova estratégia de distribuição foi amplamente criticada por organizações humanitárias internacionais, que se recusaram a colaborar com a GHF por considerarem o modelo ineficaz, politizado e perigoso.
“Estamos diante de um sistema que não tem capacidade nem experiência para atender 2,3 milhões de pessoas em uma zona de guerra”, afirmou Philippe Lazzarini, chefe da agência da ONU para refugiados palestinos (Unrwa). “Enquanto isso, o tempo corre rumo à fome em massa.”
No domingo, Jake Wood, diretor-fundador da GHF, renunciou ao cargo, afirmando que não seria possível operar dentro dos princípios humanitários de neutralidade, imparcialidade e independência.
Já o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reconheceu uma “breve perda de controle” no ponto de distribuição, mas afirmou que a situação foi contida. Ele reiterou a intenção de transferir a população de Gaza para o sul do território enquanto as tropas combatem o Hamas em outras áreas.
Desde março, Israel impôs um bloqueio total à entrada de suprimentos, sob a alegação de que o Hamas desviava alimentos para seus combatentes — acusação negada pelo grupo.
A medida levou ao colapso da infraestrutura alimentar no território, com o fechamento de padarias da ONU por falta de gás e uma explosão nos preços de alimentos básicos.
Segundo o IPC (Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar), mais de 70 mil crianças com menos de cinco anos já apresentam desnutrição aguda, com 14 mil casos classificados como graves.
A ONU e diversas ONGs afirmam que Israel está usando o acesso à comida como arma de guerra. “Ajuda usada para encobrir violência contínua não é ajuda. É uma estratégia militar de controle e expropriação”, alertou a ONG ActionAid em nota conjunta com outras entidades.
A tentativa de impor um novo modelo de distribuição sem coordenação com organizações experientes levou à tragédia anunciada — e evidencia os riscos crescentes de um colapso total no sistema humanitário em Gaza.
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