Secretarias de Saúde não têm estimativa de quanto gastam para tratar e operar acidentados

Dias atrás, o médico emergencista Jorge Martinez atendeu um rapaz levado até a Santa Casa de Campo Grande pela quarta vez após sofrer acidente de moto. A primeira entrada dele no pronto socorro foi em 2019 e a segunda e terceira foram em 2022 e 2023 ou em 2024. A vítima não se lembrava exatamente.
Os acidentes de trânsito, especialmente entre carros e motos, representam um alto custo para os hospitais públicos. Na Santa Casa de Campo Grande, vítimas ocupam até 30% dos leitos, sobrecarregando o sistema, principalmente em finais de semana e feriados. O Hospital Adventista do Pênfigo gasta cerca de R$ 3 milhões anuais com cirurgias relacionadas a traumas, enquanto o SUS investiu R$ 314 milhões no país em 2023. Mato Grosso do Sul registrou aumento de 20,9% nas mortes no trânsito entre 2018 e 2023. A Santa Casa, referência no atendimento, enfrenta falta de insumos e deficit financeiro, chegando a bloquear novas internações. Médicos destacam a reincidência de vítimas e a falta de mudança de comportamento, mesmo após acidentes graves.
“Um dos problemas é essa reincidência”, fala o médico. Outro é as vítimas dessas ocorrências ocuparem de 20% a 30% dos leitos disponíveis no setor. As piores épocas para se precisar de internação são finais de semana, feriados e festas de fim de ano, porque o hospital certamente estará sobrecarregado por atender muita gente escoriada, com braços e pernas quebrados ou em situação piores que essas.
A Santa Casa não tem uma estimativa de quanto gasta para atender pacientes com trauma de trânsito – nesse caso, o trauma tem sentido de dano físico, não o psicológico. Ela é um dos hospitais para onde pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde) podem ser levados de ambulância quando se acidentam na Capital ou no interior de Mato Grosso do Sul.

Outro hospital de referência para esse encaminhamento desde 2022 na rede pública da Capital, é o Hospital Adventista do Pênfigo. A estimativa por lá é que R$ 3 milhões por ano sejam gastos para atender traumas que necessitam de cirurgia.
O Pênfigo recebe uma média de 160 pacientes por mês. Cada procedimento feito custa R$ 1.520, que são repassados pelo poder público por meio de contrato com o hospital particular.

Sem dados regionais – A Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande não divulgou e, questionada, também não informou qual a estimativa dos gastos municipais para tratar e tentar salvar a vida de acidentados na rede pública. Já a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Saúde, que também aplica verbas para o atendimento em hospitais, afirmou que a pasta não faz esse tipo de cálculo.
Embora não dê para comparar com a capital sul-mato-grossense, a cidade de São Paulo estima ter gastado um valor elevado com isso. Foram cerca de R$ 35 milhões em 2024, segundo o que a Secretaria Municipal da Saúde divulgou em janeiro.
Também ano passado, R$ 314 milhões foi o custo do SUS em todo o País no ano passado, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde.
O Atlas da Violência publicado este ano aponta 20,9% de aumento nas mortes por acidentes com veículos em todo o Mato Grosso do Sul, entre 2018 e 2023. No ano passado, 57 ocorreram na Capital, segundo a Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública.
Na Santa Casa -Instituição que dirige o prédio do Hospital do Trauma, é a que recebe mais vítimas do trânsito de Mato Grosso do Sul. A maioria delas fica na área de verde do pronto socorro e é liberada em seguida, segundo o médico. A instituição não tem uma estimativa de quanto tempo cada um passa lá dentro até a alta hospitalar, pois depende do caso.

Mesmo que minoria, as cirurgias sobrecarregam o hospital. No mês passado, a Santa Casa chegou a bloquear a entrada de novos pacientes por falta de materiais e insumos para fazer as operações, após alegar crise por deficit financeiro de R$ 13 milhões mensais para manter funcionando toda a unidade hospitalar.
O emergencista participa das avaliações para saber se o destino dos pacientes poderá ser a sala de cirurgia. Ele explica que são vários os procedimentos a fazer quando um paciente entra pela porta do pronto socorro.
“Primeiro de tudo é olhar que tipo de fratura é. Se for exposta, a gente não pode não pode mexer, é uma fratura contaminada e tem que ser tratada no centro cirúrgico. Entramos com antibiótico, vacina antitetânica. Se é uma fratura fechada, só com tecido mole comprometido, a gente limpa. Se precisar, usamos analgésico, anestesia”, descreve.
A maioria das vítimas que chegam ao hospital não correm risco de vida. Mas até atestar isso demanda muito trabalho. “A gente faz exame baseado na mecânica, na cinemática do traumatismo. Excluímos causas, porque a parte ortopédica é extremidade. Então assim: se o paciente amputar um braço, é menos grave do que ele ter uma ruptura de baço, por exemplo. Precisamos verificar”, continua o médico.
Martinez finaliza dizendo que raramente ouve de pacientes decisões como buscar um meio de transporte mais seguro ou mudar o comportamento no trânsito, mesmo após a experiência de sofrerem um acidente e serem internados.
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