2 de junho de 2025

É claro que os trabalhadores querem uma semana de quatro dias — mas as empresas também deveriam querer

Em 2022, eu trabalhei como pesquisadora-chefe na 4DWG, uma ONG internacional que visa tornar a semana de quatro dias o novo padrão no mundo do trabalho. Desde então, estudamos 245 empresas e organizações sem fins lucrativos que adotaram programas piloto de quatro dias por semana para mais de 8.700 trabalhadores, em países como EUA, Reino Unido, Brasil, Portugal, Alemanha e África do Sul.

Para esses funcionários, os resultados de trabalhar um dia a menos por semana, sem redução no salário, foram excelentes: 69% apresentaram redução no esgotamento, 42% tiveram saúde mental melhor e 37% observaram melhorias na saúde física.

Além disso, 13% dos participantes dizem que não voltariam a um cronograma de cinco dias por nenhum salário a mais.

Aumento na receita, queda no absenteísmo

Essas descobertas podem não parecer surpreendentes. Quem não preferiria uma semana de quatro dias?

O inesperado é o quanto as organizações estão obtendo sucesso com esse modelo. Pedimos que elas classificassem o sucesso dos testes, e elas sempre dão notas altas — uma média de 8,2 de 10.

Depois de um ano, apenas 20 empresas, menos de 10% do total, decidiram não continuar com a semana de quatro dias.

Também vimos excelentes resultados em métricas de desempenho, como receita, absenteísmo e demissões. O ponto principal é que a semana de quatro dias foi uma grande vitória para as empresas.

Filosofia da semana de quatro dias

A filosofia dos testes de quatro dias por semana é que as empresas podem manter 100% de seu desempenho, mesmo com 20% menos tempo no local de trabalho. Com um pouco de ajuda, a maioria das empresas descobre truques de produtividade. O mais comum é reduzir as reuniões. 

A Microsoft Japão é o exemplo perfeito dessa estratégia.

Em 2019, foi instituída uma semana temporária de quatro dias, fechando o escritório por cinco sextas-feiras consecutivas em agosto.

Para que isso funcionasse, a empresa determinou que nenhuma reunião poderia durar mais do que 30 minutos.

Ela também orientou os gerentes a evitarem reuniões desnecessárias e, em vez disso, usarem bate-papos presenciais.

Os resultados amplamente divulgados foram impressionantes: a produtividade aumentou em 40% durante o período de teste, enquanto as licenças caíram 25%.

Valorização da criatividade

Outra maneira pela qual a semana de quatro dias torna os trabalhadores mais produtivos é permitindo que eles tenham mais tempo para serem criativos. Em seu livro “Slow Productivity” (ou algo como Produtividade Lenta), Cal Newport, professor de ciência da computação em Georgetown, explica que a pressão para preencher o tempo e parecer ocupado prejudica a qualidade e os resultados. Ele defende fazer menos coisas e trabalhar em um ritmo natural.

No outono de 2023, pedimos aos funcionários participantes que se avaliassem em uma escala de criatividade com itens como “Sou uma boa fonte de ideias criativas” e “Sugiro novas maneiras de executar tarefas de trabalho”.

Após adotar uma semana de quatro dias, 46% dos participantes registraram um aumento na criatividade, enquanto 29% observaram uma queda.

Uma interpretação é que o primeiro grupo consegue aproveitar a mudança de horário para resolver problemas e fazer as coisas de forma diferente, enquanto o segundo sente mais pressão no trabalho e tem menos tempo para deixar a mente divagar.

Sem distração

A maioria das empresas em nossos testes são organizações administrativas, nas quais eliminar reuniões e outras distrações contribui muito para tornar uma semana de quatro dias viável.

Em setores como manufatura e construção, é mais provável que se economize tempo ao tornar o fluxo de trabalho mais eficiente por meio da engenharia de processos.

Essa foi a abordagem adotada pela Pressure Drop Brewing, uma cervejaria artesanal de Londres, fundada há uma década e que produz cerca de 2.500 litros de cerveja de alta qualidade por semana.

Ben Freeman, um dos três cofundadores, comanda a parte de fabricação de cerveja do negócio e explicou que, para que o teste de quatro dias por semana seja bem-sucedido, os funcionários teriam que ter responsabilidade. Isso significava descobrir como reorganizar suas próprias atividades: “Todos concordaram e todos apresentaram ideias, mas alguns realmente pensaram muito no assunto e tinham listas inteiras de coisas que deveríamos fazer de forma diferente”.

Durante cerca de dois meses, os trabalhadores cronometraram todas as suas tarefas para ver quanto tempo cada uma levava. Isso ofereceu múltiplas oportunidades para sequenciar as coisas de forma diferente e encaixar novas demandas. 

Antes do teste, a empresa realizava uma reunião na segunda-feira de manhã para listar e alocar tarefas. Eles anteciparam essa reunião para a semana anterior, o que significava que se alguém tivesse um momento livre na quinta ou sexta-feira poderia marcar as coisas para a semana seguinte. Ao limpar o equipamento, etiquetar os barris e alinhá-los com antecedência, eles conseguiram economizar de uma a duas horas na terça-feira.

Piada de economista

Os economistas tendem a ser céticos quanto à ideia de que as organizações podem aumentar a produtividade o suficiente para compensar uma grande redução no tempo de trabalho.

Uma piada antiga resume esse pensamento. Dois caras estão caminhando pela calçada. Um deles olha para baixo e diz: “Ei, tem uma nota de 20 dólares no chão”. O outro responde rapidamente: “Bobagem. Se houvesse uma nota de 20 dólares ali, alguém já a teria pegado.”

Se há ganhos de produtividade, por que as empresas ainda não encontraram essas vantagens? Elas precisam dar um dia de folga aos seus funcionários para implementar mudanças nas práticas ou processos de reuniões? Por que as empresas não fazem essas coisas dentro da estrutura de uma semana de cinco dias e obtêm um desempenho ainda melhor de seus funcionários?

Ótimas perguntas. Uma resposta pode ser que a maioria das mudanças que aumentam a produtividade são caras. Mas a semana de quatro dias não exige a compra de softwares ou máquinas caros para aumentar a produtividade horária. Apenas algumas empresas em nossos testes contrataram consultores para descobrir como fazer isso sem reduzir o desempenho.

Em vez disso, elas estão fazendo essas mudanças com pouco ou nenhuma despesa, mobilizando o tempo, a energia e a criatividade dos trabalhadores.

Essa inovação é o que as pessoas chamam de win-win (em português, ‘ganha-ganha’). Os economistas geralmente não acreditam nisso, então a ideia por trás do atual movimento da semana de quatro dias — de que há uma maneira de beneficiar os trabalhadores que também ajuda a gerência e os proprietários — é altamente implausível no mundo da economia convencional.

Sextas-feiras diferentes

E, no entanto, isso já está acontecendo organicamente. Em muitas empresas, as sextas-feiras estão se tornando um dia diferente.

Há sextas-feiras sem reuniões, sextas-feiras de trabalho em casa, sextas-feiras alternadas de folga e fechamento antecipado.

Todos esses são sinais de que estamos evoluindo de uma semana de trabalho de segunda a sexta para uma semana mais alinhada às necessidades de uma economia baseada em conhecimento, tecnologicamente sofisticada e de alta produtividade.

Inteligência artificial

Há uma certa urgência neste momento. Estamos enfrentando um alto grau de incerteza sobre empregos como resultado da rápida introdução da inteligência artificial.

A capacidade de grandes modelos de linguagem como o ChatGPT de eliminar milhões de empregos bem remunerados significa que precisamos pensar em como nos adaptamos a essa tecnologia. Em vez de reagir eliminando empregos, talvez todos pudéssemos trabalhar menos.

Traduzido do inglês por InvestNews

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