As principais companhias aéreas do mundo prometem resistir a tentativas da indústria aeronáutica de repassar os efeitos das tarifas globais no aumento de preço das aeronaves. O recado foi dado durante a assembleia anual da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, em inglês), em Nova Délhi, em meio a uma combinação indigesta para o setor: recorde no número de passageiros, atrasos crônicos na entrega de aviões e margens de lucro pressionadas.
“Voar torna o mundo mais próspero”, disse Willie Walsh, diretor-geral da IATA. “Isso contrasta com o isolacionismo, as barreiras comerciais e a fragmentação do sistema multilateral. Esses fatores destroem riqueza e reduzem padrões de vida. Essa é uma mensagem crítica para os tempos atuais.”
Os executivos citaram, entre outros fatores, o impacto negativo das tarifas comerciais amplamente adotadas pelo governo Donald Trump, que contribuíram para esfriar a economia e afetar os gastos com lazer — levando muitos consumidores, especialmente nos EUA, a rever ou adiar planos de viagem.
“O consumidor está incerto”, resumiu Joanna Geraghty, presidente-executiva da JetBlue Airways.
Menos lucro, mais passageiros
A IATA agora projeta um lucro combinado de US$ 36 bilhões para o setor aéreo global em 2024, ligeiramente abaixo dos US$ 36,6 bilhões estimados em dezembro, mas ainda acima dos US$ 32,4 bilhões registrados no ano passado. A entidade representa cerca de 300 companhias aéreas, responsáveis por 80% do tráfego aéreo mundial.
Embora não haja, por ora, sinais de aumento nos preços das aeronaves por causa das tarifas, Walsh afirmou que as companhias não aceitarão esse repasse. Fabricantes como a GE Aerospace já sinalizaram a aplicação de sobretaxas para compensar custos adicionais.
Gargalos na indústria
O setor também enfrenta atrasos prolongados nas entregas de aviões, que têm freado os planos de expansão das companhias aéreas em plena retomada pós-pandemia.
Walsh classificou as previsões de atrasos até o fim da década como “inaceitáveis”, e afirmou que a indústria estuda medidas legais — embora prefira negociar com os fabricantes. “O setor de fabricação está falhando gravemente”, criticou.
Segundo a IATA, o número de aeronaves previstas para entrega em 2025 caiu 26% em relação às promessas feitas há um ano. A Airbus, por exemplo, já informou que deve enfrentar ao menos três anos de atrasos. A Boeing, por sua vez, tenta recuperar o ritmo após enfrentar uma crise de qualidade e uma greve trabalhista.
“A transparência está faltando, e estamos ficando agitados”, disse à Reuters Steven Greenway, CEO da flyadeal, cliente da Airbus.
O apetite segue alto
Apesar das turbulências, a demanda por novos aviões segue firme. No domingo, a maior companhia aérea da Índia, IndiGo, anunciou um novo pedido à Airbus. Já a Air India, segundo a Reuters, estaria em negociações para outra grande encomenda.
“As aéreas indianas já encomendaram mais de 2 mil jatos — e isso é só o começo”, afirmou o primeiro-ministro Narendra Modi, no encontro da IATA. A expectativa é que o número de passageiros aéreos no país mais que dobre até 2030, saltando de 240 milhões para 500 milhões.
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