6 de junho de 2025

Governo Trump propõe cortar financiamento bilionár…

O governo dos Estados Unidos apresentou ao Congresso, na semana passada, uma proposta orçamentária para o próximo ano fiscal que prevê o fim do financiamento de diversos programas globais de vacinação, incluindo ações voltadas à erradicação da poliomielite e ao combate ao sarampo. A medida segue a política America First (algo como “EUA em primeiro lugar” em português), defendida pela gestão de Donald Trump, que prioriza investimentos diretamente ligados à segurança nacional e a benefícios aos contribuintes americanos.

O documento enviado ao Legislativo dos EUA alega que os programas de saúde em questão “não tornam os americanos mais seguros”. Por isso, o orçamento proposto elimina US$ 230 milhões (cerca de R$ 1,2 bilhões) destinados a campanhas internacionais de imunização, sendo US$ 180 milhões (mais de R$ 1 bilhão) para a erradicação da pólio e o restante para o controle do sarampo e outras doenças, segundo análise feita pelo jornal The New York Times.

Além disso, o plano extingue o setor de saúde global do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC); retira o apoio financeiro à Gavi, a aliança internacional responsável pela compra de vacinas para crianças em países em desenvolvimento; e reduz em 47% os recursos para o combate à malária. O plano também altera o modelo de financiamento do Fundo Global, com cortes significativos para as ações contra HIV, malária e tuberculose.

Embora preserve parcialmente o programa de combate ao HIV que já salvou mais de 20 milhões de vidas, o PEPFAR, o orçamento passará a focar exclusivamente na manutenção de tratamentos, com menos da metade dos recursos previstos no passado. Com os cortes, o governo pretende recuperar US$ 9,4 bilhões (R$ 53 bilhões) já autorizados para programas globais de saúde e eliminar subsídios a ações voltadas a comunidade LGBTQIA+ e a iniciativas que, segundo a Casa Branca, “apoiam o aborto”.

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Preocupações de especialistas

A justificativa da administração Trump é de que a responsabilidade deve ser transferida para outros países e doadores, que “deveriam contribuir com sua parte justa”. Especialistas em saúde pública alertam que o argumento é falho, já que doenças infecciosas não respeitam fronteiras: todos os casos recentes de sarampo nos Estados Unidos foram provocados por viajantes internacionais e, em 2022, o país registrou um caso de poliomielite em um adulto não vacinado, infectado após contato com o vírus importado.

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“Os EUA foram extremamente generosos ao longo de muitos anos e, claro, estão dentro de seus direitos de decidir o que apoiar e em que medida”, disse o porta-voz da Organização Mundial de Saúde (OMS), Christian Lindmeier. “Mas a escala, o alcance e a natureza abrupta dos cortes dos EUA levarão a mais doenças e mortes.”

Os cortes ameaçam redes globais fundamentais, como o Laboratório de Sarampo e Rubéola e o sistema da OMS responsável por monitorar a imunização na Índia. Caso se concretizem, os possíveis cortes acontecerão em um momento especialmente delicado, após a pandemia de Covid-19 ter enfraquecido campanhas de vacinação e favorecido o ressurgimento de doenças como pólio e sarampo.

Só na região do Pacífico Ocidental da OMS, estima-se que 3,2 milhões de crianças ficaram sem receber sequer uma dose de vacina entre 2020 e 2023, enquanto países como Filipinas, Vietnã e Camboja enfrentam os maiores surtos de sarampo desde 2020. A proposta também provoca apreensão entre organizações internacionais, que temem a perda de investimentos privados.

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