Os Estados Unidos vetaram nesta quarta-feira, 4, uma proposta de “cessar-fogo imediato, incondicional e permanente” entre Israel e o grupo palestino radical Hamas no Conselho de Segurança das Nações Unidas. O placar terminou em 14 votos a favor e um contrário, sem abstenções. A resolução, segundo a representação americana na ONU, prejudica os avanços de acordos entre os dois lados da guerra e falha em responsabilizar o Hamas, de forma a permitir que os militantes repitam os ataques de 7 de outubro de 2023.
“Colegas, a oposição dos Estados Unidos a esta resolução não deveria ser uma surpresa. Ela é inaceitável pelo que diz, inaceitável pelo que deixa de dizer e inaceitável pela forma como foi apresentada. Os Estados Unidos foram claros ao afirmar que não apoiariam nenhuma medida que não condenasse o Hamas e que não exigisse que o Hamas se desarmasse e deixasse Gaza”, disse a embaixadora Dorothy Camille Shea no momento do voto americano.
Os EUA afirmaram, ainda, que o plano “premia injustamente o terrorismo” e que, no lugar da proposta, as Nações Unidas deveriam demandar a desmilitarização do Hamas. Em nenhum momento, a declaração condenou a campanha militar israelense e o bloqueio parcial à entrada de ajuda humanitária em Gaza, ambos criticados por países como França, Canadá, Alemanha, Reino Unido, Espanha e Brasil, bem como pela União Europeia (UE). Mais de 53 mil palestinos morreram desde o início da guerra. O discurso americano atribuiu culpa ao grupo palestino e defendeu o direito de Israel à autodefesa.
Os outros 14 membros do Conselho votaram a favor da resolução, que definiu a situação humanitária em Gaza como “catastrófica” e apelou ao fim das restrições israelenses à entrega de ajuda a milhares de palestinos que habitam o enclave. Em novembro, ainda sob o governo de Joe Biden, os Estados Unidos vetaram a última resolução sobre uma trégua por não estar vinculada à libertação imediata e incondicional de todos os reféns. Das 59 pessoas que ainda permanecem em cativeiro, apenas 24 estão vivas, segundo a Inteligência de Israel.
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Suspensão da ajuda humanitária
A Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês) suspendeu nesta quarta-feira a distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza após uma série de episódios em que forças israelenses abriram fogo em meio ao caos de palestinos desesperados por suprimentos. Na véspera, ao menos 27 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas por tiros disparados pelas tropas de Israel próximos a um local de distribuição de alimentos da GHF, um controverso grupo apoiado por Washington e Tel Aviv, em Rafah, no sul do enclave.
Ao anunciar a decisão, a fundação disse que solicitou às Forças de Defesa de Israel (FDI) que “orientem o fluxo de pessoas de forma a minimizar confusões ou riscos de escalada” nos pontos de entrega. O grupo também afirmou que sua “maior prioridade continua sendo garantir a segurança e a dignidade dos civis que recebem ajuda”, apesar de críticas das Nações Unidas sobre a sua atuação em Gaza. A suspensão temporária também procura colocar em prática “trabalhos de renovação, reorganização e melhoria de eficiência”, segundo a GHF.
“Devido às atualizações em andamento, a entrada nas áreas do centro de distribuição está sendo gradualmente proibida! Por favor, não se dirijam ao local e sigam as instruções gerais. As operações serão retomadas na quinta-feira. Por favor, continuem acompanhando as atualizações”, alertou a fundação em comunicado.
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Fome e insegurança alimentar
A população da Faixa de Gaza, composta por 2,3 milhões de pessoas antes da guerra, está em “risco crítico” de fome e enfrenta “níveis extremos de insegurança alimentar”, apontou um relatório da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), apoiada por agências das Nações Unidas, grupos de ajuda e governos.
O documento indicou que o cessar-fogo, que durou de janeiro a março, “levou a um alívio temporário” em Gaza, mas as novas hostilidades israelenses “reverteram” as melhorias. Cerca de 1,95 milhão de pessoas, ou 93% da população de Gaza, vivem níveis de insegurança alimentar aguda. Desse número, mais de 244 mil enfrentam graus “catastróficos”. A fome generalizada, segundo a pesquisa, é “cada vez mais provável” no território. No momento, meio milhão de palestinos, um em cada cinco, estão famintos em Gaza.
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