Quando países importantes abriram mão de suas moedas icônicas, como o franco francês ou o marco alemão, o advento do euro parecia incontestável. Uma moeda única implicaria em maior livre trânsito de mercadorias e serviços, mais coesão econômica e o conforto de atravessar fronteiras sem pensar em câmbio. Trinta anos se passaram, mas ainda há resistências. A mais projetada do momento é a da direita da Bulgária, que promove protestos contra a adoção, marcada para a virada de 2026.
A moeda comum traz vantagens evidentes, desde política monetária mais saudável ao controle da corrupção. Mas também implica em perda de soberania em matéria de política monetária. A maior resistência ao euro veio da Grã-Bretanha, que jamais abriu mão da libra, o que facilitou sua saída da União Europeia.
Mas outros sete países continuam a ter suas próprias moedas: Dinamarca (que rejeitou o euro em plebiscito em 2020), Suécia, Islândia, Polônia, Hungria, República Checa e a própria Bulgária.
Existem também quatro micropaíses que não são da UE, mas fizerem acordos de adoção do euro: Andorra, Mônaco, São Marino e Vaticano.
Abrir mão da própria moeda pode ser duro para países que já são economicamente saudáveis e têm uma ligação forte com seus próprios sistemas. Num país bem sucedido – e caríssimo – como a Dinamarca, 63% da população rejeitam a moeda única.
Outros índices de rejeição: República Checa, 63%; Polônia, 59%; Suécia, 55%; Bulgaria, 50%. Geralmente, a oposição está associada ao eleitorado mais à direita, mas não com exclusividade.
“Um voto em mim é um voto pelo zloty e por nossa soberania”, disse o presidente eleito da Polônia, Karol Nawrocki, indicando que o país não vai aderir ao euro tão cedo. O presidente do banco central polonês também é contra.
APEGO EMOCIONAL
O populista Kostadin Kostadinov está liderando os protestos na Bulgária, até com tentativas de convocação de eleições antecipadas para barrar a adoção da moeda. Não deve dar certo. Seus discursos são inflamados, mas ele dificilmente terá sucesso, mesmo com as pesquisas mostrando que somente 43% apoiam a moeda comum e mesmo assim numa data mais distante.
O motivo mais comum da oposição é o medo do aumento de preços – o que realmente ocorreu no passado, com casos em países como a França em que um produto que custava cinco francos passou diretamente para cinco euros, um descalabro. Mas na adesão mais recente, na Croácia, a alta dos preços foi irrisória, de apenas 0,4%.
Para entrar na eurozona, um compromisso assumido quando os países ingressam na União Europeia, é preciso passar por um teste de bons indicadores e, como diz o clichê, fazer a lição de casa. A Bulgária passou com boas notas. A dívida nacional é de apenas 24% do PIB, o déficit público é de 3% do PIB, a inflação está no espectro da eurozona e sua moeda, o lev búlgaro, já está há anos atrelado ao euro.
Além da campanha política, existe também uma espécie de apego emocional à moeda. Até hoje, franceses mais idosos deixam escapar um “francos” quando falam em algum preço. Mas poucos pensam em regredir ao que era antes. E, se pensam, sabem que, sem dispor mais da moeda própria, seria traumática a saída da União Europeia. Nem os populistas franceses da linha de Marine Le Pen falam mais em ruptura.
O euro veio para ficar, pelo menos até onde a vista alcança.
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