Investidores da Tesla: as maiores vítimas do tiroteio entre Musk e Trump

Quando Donald Trump ganhou a eleição, investidores viam a Tesla como uma das grandes vencedoras. Agora, não mais.

As tensões entre Musk e Trump explodiram publicamente na quinta-feira, com o presidente cogitando encerrar contratos governamentais e subsídios para a Tesla e a SpaceX. Musk, por sua vez, ameaçou desativar uma aeronave da SpaceX usada pelos EUA, mas recuou mais tarde no mesmo dia.

“Fiquei horrorizado com o que li, porque vi imediatamente que seria uma péssima ideia iniciar um conflito desse nível com o presidente dos Estados Unidos”, disse Ross Gerber, CEO da gestora Gerber Kawasaki.

As ações da Tesla caíram 14% na quinta-feira, evaporando US$ 152 bilhões em valor de mercado. A Destiny Tech100 Inc., fundo fechado com participação relevante na SpaceX, caiu 13%. A montadora encerrou a semana em queda de 15%, sua pior semana desde outubro de 2023. No ano, é a ação com pior desempenho entre as “Sete Magníficas”, com queda de 27% contra alta de 3,3% do grupo, segundo dados da Bloomberg.

Leia também: Combate entre Musk e Trump derruba bitcoin, que bateu em US$ 100 mil

“É uma briga de colégio entre melhores amigos que viraram rivais”, disse Dan Ives, analista da Wedbush e um dos maiores defensores da Tesla. “É uma situação sombria para os investidores. A última coisa que querem ver é Trump passar de apoiador a inimigo de Musk.”

Por ora, Musk e Trump pararam de trocar insultos. Não há previsão de conversa entre os dois. Mas os danos causados em poucas horas podem ser difíceis de reverter. As ações da Tesla subiram 3,7% na sexta-feira (6), recuperando apenas parte das perdas.

Ruptura

Musk deixou oficialmente seu papel de conselheiro na administração Trump na semana passada, após pressão de acionistas da Tesla. A separação foi, inicialmente, amistosa, com Musk sinalizando que continuaria próximo da Casa Branca. No entanto, desde sua saída, ele se tornou um crítico do projeto de lei central de Trump, que prevê ampliação dos gastos públicos, mas não só. Ela também inclui o fim de abatimentos de impostos para a compra de carros elétricos – como os da Tesla.

“Acho que Trump está chocado por Elon tê-lo confrontado publicamente, e isso só tende a piorar”, disse Gerber. “Espero que a situação se acalme, mas atacar o presidente dos EUA é uma ideia péssima.”

A tensão aumentou na terça-feira (3), quando Musk chamou a proposta trumpista de “aberração nojenta”. Segundo Ives, há outras divergências também. “Foi um choque para Musk. Washington é bem diferente de administrar uma empresa”, afirmou.

Além disso, políticas defendidas por Trump e legisladores republicanos podem ameaçar bilhões em receita da Tesla. Republicanos no Congresso apoiam Trump na ruptura com Musk, o que pode acelerar a aprovação do projeto. Se aprovado, ele eliminaria até US$ 7.500 em créditos fiscais para alguns modelos da Tesla ainda este ano — sete anos antes do previsto.

O impacto estimado no lucro anual da Tesla seria de US$ 1,2 bilhão, segundo o JPMorgan.

Ficar ou Sair?

As ações da Tesla tinham subido 29% na semana da vitória de Trump, em novembro, refletindo otimismo dos investidores. Essa alta já está praticamente apagada com a queda em 2025.

A disputa pública “aumenta o risco político e reputacional” para a Tesla, segundo Paul Stanley, diretor de investimentos da Granite Bay Wealth Management. Controvérsias persistentes podem abalar a confiança dos investidores e elevar a volatilidade. “Dado o poder da presidência, isso só pode ser negativo para a Tesla e Musk”, afirmou.

Enquanto isso, Irene Tunkel, da BCA Research, considera as ações da Tesla “supervalorizadas”, diante de crescimento em desaceleração e concorrência acirrada em um setor de margens apertadas. “O mercado precificava sonhos — de robôs humanoides à produção em massa de carros totalmente autônomos”, disse. “Uma correção era inevitável.”

Alguns, porém, lucraram com o caos. Vendedores a descoberto (que apostam na baixa das ações) ganharam cerca de US$ 4 bilhões com o tombo dos papéis, segundo Matthew Unterman, da S3 Partners. A Tesla é a terceira ação mais vendida a descoberto no S&P 500, atrás de Nvidia e Microsoft.

“O drama da Tesla com o governo adiciona risco político a um mercado já saturado”, disse Haris Khurshid, diretor de investimentos da Karobaar Capital. “Investidores apostavam em IA e autonomia, mas agora o foco volta para execução, margens e risco regulatório.”

Khurshid acrescentou: “Reduzimos exposição — não por duvidar da tecnologia, mas porque o sentimento muda mais rápido que os fundamentos.”

‘Tenham Paciência’

A turbulência vem às vésperas de um momento decisivo para a Tesla. A empresa pretende lançar seu aguardado serviço de robotáxis em Austin, Texas, em 12 de junho — um marco no plano de Musk de transformar a Tesla com veículos autônomos e IA.

Segundo Mandeep Singh e Robert Biggar, da Bloomberg Intelligence, o sucesso dependerá de avanços no software que reduzam a necessidade de intervenção humana, aproximando a Tesla da concorrente Waymo.

O lançamento é o “início da visão autônoma e do próximo ciclo de crescimento”, disse Ives, da Wedbush, que considera a ação “muito vendida”. Ainda assim, investidores precisarão “ter paciência”.

“Acredito que eles continuarão sendo amigos e apoiadores, mas este é um momento tenso para os investidores da Tesla”, disse Ives.

Por Joel Leon