O presidente esquerdista da Colômbia, Gustavo Petro, andava muito mal das pernas. E a coisa piorou com o atentado contra o senador oposicionista Miguel Uribe, aspirante a ser candidato presidencial pelo partido Centro Democrático que, apesar do nome, é de direita e foi montado pelo ex-presidente Álvaro Uribe, sem parentesco, mas com identidade ideológica com a vítima.
A reação de condenação de Petro aos terríveis disparos de Glock feitos por um adolescente de 14 anos foi certa. Tudo mais foi errado. Nada de muito diferente deveria ser esperado do ex-guerrilheiro que oposicionistas chamam de pior presidente do mundo e a quem a opinião pública dá uma aprovação na casa de 38%.
Mas, numa hora em que o país traumatizado precisava de autoridade e serenidade, Petro se enfiou pelos meandros de postagens bizarras – um hábito comum e tremendamente impróprio. Entre outras maluquices, ele lembrou o sequestro e morte, em 1991, da mãe de Miguel Uribe, Diana Turbay, capturada com outros jornalistas e políticos na época em que Os Extraditáveis, como designados por Pablo Escobar, aterrorizavam o país para sabotar um acordo de extradição de narcotraficantes para os Estados Unidos.
Quando Miguel Uribe tombou com uma bala na parte de trás do crânio, em cenas horríveis registradas pelos celulares de pessoas que assistiam seu comício improvisado num bairro de Bogotá, todo mundo na Colômbia se lembrou da morte da mãe dele. Mas Petro entrou por um campo absurdo, referindo-se a Diana como “uma mulher árabe” que tinha o direito de viver na Colômbia.
‘TORPEZA DESCOCADA’
Diana era filha do ex-presidente Julio César Turbay Ayala, descendente de imigrantes libaneses pela linha paterna. Por que chamá-la de “uma mulher árabe”? Não existem relações entre a ascendência étnica e o crime de que ela foi vítima – possivelmente atingida acidentalmente nas costas por uma bala das forças policiais que tentavam resgatá-la.
As reações mais fortes vieram de ex-integrantes do governo Petro, um especialista em fazer inimizades com aliados. “Patética, triste, absolutamente incoerente e muito preocupante essa alocução”, reagiu o ex-ministro da Educação Alejandro Gaviria.
Outro ex-ministro, Álvaro Leyva, que chefiou a pasta das Relações Exteriores, disse que Petro deveria deixar a Presidência, com os devidos processos institucionais para “garantir sua plena recuperação”. Recentemente, Leyva disse que o presidente da Colômbia é viciado em cocaína, citando episódios em que “desapareceu” durante viagens ao exterior.
O ex-ministro também afirmou que Miguel Uribe foi “vítima da torpeza desbocada” de Petro, que submeteu personalidades públicas a uma exposição maligna. Lembrou até ter perguntado numa carta profética dirigida ao presidente: “Se os matarem, e daí Petro?”.
Não é justo culpar Petro pelo crime político, mas o ambiente altamente inflamado da política colombiana explica os exageros, com acusações mútuas de ruptura institucional, como mencionou Miguel Uribe num comício anterior ao atentado. A resposta de Petro, como sempre, foi descompensada. “O neto de um presidente que ordenou a tortura de dez mil colombianos falando em ruptura institucional?”, provocou
ATIVIDADE DE ALTO RISCO
Culpar um neto por atos do avô é, obviamente, um caso de descontrole verbal. Ainda mais se praticado por alguém que tem a ficha do presidente, de ex-integrante da organização armada M-19. Devidamente lembrada na resposta de Uribe: “Foi Petro quem empunhou armas e participou de um grupo criminoso. Foi o M-19 que assassinou, torturou, sequestrou e incendiou o Palácio da Justiça”.
A Colômbia é tristemente célebre pela violência política, em especial contra candidatos presidenciais, uma atividade de alto risco. A capital do país deu origem até ao termo “bogotazo”, a explosão de saques e mortes que se seguiu ao atentado que matou o candidato Jorge Eliécer Gaitán, em 1948. Os confrontos se propagaram por vários anos, no período que ficou conhecido simplesmente como La Violencia.
Entre os anos oitenta e noventa, nada menos que quatro presidenciáveis foram mortos, incluindo o caso mais conhecido, de Luiz Carlos Galán, metralhado num palanque.
Hoje seu filho, Carlos Fernando Galán, é prefeito de Bogotá e participou de reuniões de emergência para coordenar a segurança depois das quatro balas barbaramente disparadas contra Miguel Uribe. Numa reunião dessas, Petro soltou uma bomba. “A polícia está fortemente infiltrada”, disse o presidente, revelando que a segurança de Uribe havia sido reduzida de sete para três policiais.
O autor dos disparos disse que o crime foi encomendado pelo dono de um ponto de venda de drogas. A história que inexoravelmente se repete é uma maldição na Colômbia.
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