No Brasil, ele é Mister M, quase um herói. Mas nos EUA, Val Valentino passou anos sendo vaiado e recebendo ameaças de morte ocasionais por ser um mágico empenhado em expor os segredos por trás dos truques mais populares do mundo. Hoje, o homem de 68 anos, da Califórnia, acabou de se mudar para o Brasil.
Os brasileiros vivem com o medo de serem enganados — por políticos corruptos ou esquemas criminosos — e não gostam disso, quer seja por mágicos ou por qualquer pessoa. Eles não se cansam de Valentino.
“Finalmente apareceu alguém que não queria enganá-los”, disse o ilusionista brasileiro Henry Vargas. O Mágico Mascarado — ou Mister M, como Valentino é conhecido no Brasil — alcançou a fama na década de 1990 por meio de sua série de TV americana de sucesso “Breaking the Magician’s Code” (quebrando o código dos mágicos), mostrando ao público como levitar e serrar uma mulher ao meio.
Mister M, o traidor
Mister M era chamado de traidor pelos mágicos nos EUA. Eles o acusavam de revelar segredos comerciais, levar seus shows à falência e destruir a maravilha da magia.
“Eles se organizaram e estavam arrecadando dinheiro para contratar um assassino”, disse Valentino em entrevista em sua casa em São Paulo. “Foi muito louco, simplesmente insano.”
Mas Valentino agora está vivendo bem no Brasil. Ele se tornou um dos heróis mais improváveis da América Latina. Fez shows com ingressos esgotados, apareceu em talk shows e ficou noivo de uma assessora política brasileira 20 anos mais jovem do que ele.
Quem gosta de carnaval usou a máscara preta e branca, e os rappers brasileiros compuseram músicas em sua homenagem, celebrando Mister M como uma lenda que “mantém a realidade” mesmo quando a sociedade o pressiona a mentir.
Os políticos brasileiros, ansiosos para usar a transparência e a boa-fé de Mister M, também se tornaram fãs. “Não há truque nem mágica aqui, nem uma cortina de fumaça para esconder a verdade!”, vangloriou-se o deputado Mauricio Neves no início deste ano, segurando a máscara do Mister M para mostrar ser um “bom político”.
Valentino, que mal fala português, está um pouco perplexo com seu novo sucesso: “Nossa, eu fiquei tipo, uau, OK então”.
Ele não planejava se mudar para o Brasil. Cerca de dez anos atrás, estava na casa de seu irmão em Los Angeles quando desmaiou por três minutos e meio — uma experiência de quase morte, disse ele, na qual sua falecida mãe veio até ele em uma visão e lhe disse para visitar o Brasil.
Demorou um pouco para conseguir um passaporte, mas em fevereiro de 2020, ele estava em um avião para São Paulo. Um mês depois, a pandemia começou e ele foi forçado a ficar por aqui. Sua recusa em tomar a vacina contra a Covid prolongou sua estadia devido a restrições de viagem. Em seguida, foi submetido a uma cirurgia para tratar um câncer de próstata. Quando ficou noivo no Natal do ano passado de Flávia Romani, assessora política e influenciadora de rede social, já havia desistido de tentar voltar para casa.
“Acho que realmente estou destinado a ficar no Brasil”, disse Valentino, sentado em uma cadeira de plástico branco em seu smoking no saguão de seu prédio de apartamentos dos anos 1970.
Escola de magia
Valentino e Romani estão trabalhando em uma legislação para regulamentar a profissão e abrir as escolas de magia Mister M em todo o Brasil.
Não é a primeira vez que Valentino descobre ser amado por um país que mal conhece.
Na Indonésia e no Oriente Médio, onde muitos seguidores do Islã denunciam a evocação do sobrenatural pela magia, os ilusionistas elogiaram os esforços de Valentino para desmistificar o ofício. Depois que seu programa foi ao ar na China, revelando o trabalho árduo por trás dos principais truques de mágica, uma nação cética se entusiasmou com o ofício.
“Eles perceberam que é uma arte, que há luzes e música e muito mais”, disse ele. “Não é apenas alguém tentando fazer você se sentir burro.”
Conquistar os brasileiros, que detestam o engano mais do que ninguém, foi seu maior feito até agora.
Menos de 10% dos brasileiros confiam no governo e apenas um quarto confia nos tribunais e na polícia, mostram as pesquisas. Seis dos sete presidentes do Brasil desde 1990 foram submetidos a investigações criminais.
O cotidiano dos brasileiros funciona com o famoso “jeitinho”: soluções engenhosas, tortuosas ou mesmo ilegais para resolver problemas. Os exemplos estão por toda parte. As empresas contratam office boys idosos para guardar lugar na fila de bancos e cartórios, explorando as regras federais que dão prioridade a qualquer pessoa com mais de 60 anos. Os preocupados com a beleza recebem injeções de botox no dentista para que possam ser reembolsados pelo seguro saúde como trabalho ortodôntico.
“Os brasileiros geralmente querem ser os mais espertos; eles não querem se sentir enganados”, disse Vargas, o ilusionista brasileiro.
O sucesso do Mister M no Brasil dificultou a situação para outros mágicos, reforçando a ideia de que os ilusionistas são mentirosos profissionais, disse ele.
“É como ir ver o Mickey Mouse e, dois minutos depois de ouvir a bela história, você vê que é apenas uma fantasia.”
Vargas e a outra metade de seu ato, Klauss Durães, não recorrem às mesmas táticas. Em vez disso, eles começam seu show com um conto comovente sobre sua amizade de infância e ascensão de origens humildes em Minas Gerais, estado famoso por suas vacas e por seus habitantes simpáticos. Os detalhes biográficos desarmam os espectadores mais escolados, disseram eles.
“O impossível é apenas uma ilusão!”, é o slogan edificante da dupla. Vargas mais tarde se senta para tocar piano durante o show — prova de um talento honesto — e a performance apresenta ilusões elaboradas como um helicóptero no palco para convencer os espectadores de que estão tendo seu gasto recompensado.
Romani, noiva de Valentino, acredita que o fato de ele ser estrangeiro ajudará a atrair mais fãs para seus shows no maior país da América Latina. Ela comparou seu apelo ao dos tênis ou dos celulares importados.
“Os brasileiros se encantam com coisas que não são do Brasil”, disse ela.
Seu único medo é que Valentino tenha “bom coração” demais para o Brasil, fazendo dele um alvo fácil para quem quer tirar vantagem: “Seu problema é que ele confia demais nas pessoas”.
Traduzido do inglês por InvestNews
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