16 de junho de 2025

Como as stablecoins podem (mesmo) desestabilizar o sistema financeiro global

A popularização das stablecoins não tiraria todos os depósitos dos bancos. Apenas alguns dos melhores.

O Senado dos EUA está prestes a aprovar a chamada Genius Act, que estabelecerá diretrizes para emissores de stablecoins — tokens digitais totalmente lastreados por moedas fiduciárias como o dólar. Um dos grandes debates sobre a conveniência de oferecer um arcabouço regulatório para as stablecoins gira em torno de como elas poderiam afetar o sistema bancário caso ganhem escala.

Tecnicamente, as stablecoins não retiram recursos do sistema bancário. De um jeito ou de outro, esses dólares acabam voltando para os bancos. A questão é que o tipo de depósito que os bancos receberiam pode ser bem diferente: seriam grandes depósitos não segurados, o que deixa muita gente desconfortável.

LEIA MAIS: Stablecoins: o que são e como funcionam?

Quando uma stablecoin atrelada ao dólar é criada, o emissor recebe dólares, que são colocados em reserva. Segundo as diretrizes propostas nas diferentes versões da Genius Act, os emissores podem manter essas reservas em contas bancárias.

Também podem comprar ativos como títulos do Tesouro dos EUA, o que transfere o dinheiro para as contas dos vendedores desses ativos. Ou podem, basicamente, emprestar dinheiro aos bancos por meio de operações conhecidas como repos (acordos de recompra), como os fundos de mercado monetário costumam fazer.

Cofrinho rosa brilhante com moeda azul sendo inserida no topo, sobre fundo azul claro.
Imagem: Getty Images

“As stablecoins podem ser vistas como uma versão digital dos fundos de mercado monetário”, escreveram estrategistas do JPMorgan Chase em um relatório recente. Com esse tipo de fundo, “os depósitos bancários não são ‘destruídos’ por esse movimento, apenas transferidos para outros agentes econômicos”, disseram os estrategistas, destacando que isso não reduz a disponibilidade de crédito.

Ainda assim, o modo como os depósitos e o financiamento bancário seriam transformados é um ponto crucial.

Por exemplo: se uma pessoa retira dinheiro de uma conta com saldo inferior a US$ 250 mil — totalmente coberta pelo seguro de depósitos do governo americano — e transfere esses recursos para um emissor de stablecoin, esse dinheiro pode acabar em uma conta com saldo muito maior, sem cobertura total. Esses depósitos são mais caros para os bancos e mais suscetíveis a saídas rápidas.

“Captar depósitos de emissores de stablecoins transforma os depósitos de varejo — que servem como uma fonte estável de financiamento para os bancos — em depósitos voláteis, que não podem cumprir esse papel”, segundo um estudo recente feito por pesquisadores do Banco Central Europeu.

Grandes depósitos corporativos não segurados foram uma preocupação durante a crise bancária regional de 2023. Entre os depositantes do Silicon Valley Bank (SVB) na época estava a Circle Internet Group, emissora da stablecoin USDC.

A empresa, que abriu capital na semana passada, disse em seu prospecto que, em março de 2023, iniciou transferências de “mais de US$ 3 bilhões em depósitos” do SVB, mas que essas transferências não foram concluídas antes de o banco ser assumido pelos reguladores. Naquele momento, o USDC chegou a ser negociado abaixo de US$ 1 em algumas bolsas. A situação foi resolvida logo depois que o governo anunciou que todos os depósitos do SVB seriam garantidos, informou a empresa.

Depósitos maiores provavelmente se concentrariam nos maiores bancos, que já são obrigados a manter uma grande parte de seus ativos em liquidez elevada e, por isso, podem enfrentar menos riscos se os fundos se moverem rapidamente. No prospecto, a Circle disse que investiu e aprimorou sua estrutura de gestão de reservas, incluindo a decisão de manter “a maior parte significativa” das reservas em dinheiro nos bancos considerados globalmente sistêmicos. Essa categoria inclui nomes como Bank of America, Citigroup, JPMorgan e Wells Fargo.

E isso antes mesmo de considerar a possibilidade de que sejam os próprios bancos os emissores de stablecoins no futuro. O Wall Street Journal já havia noticiado: grandes bancos chegaram a discutir, em fases iniciais, a possibilidade de lançar uma stablecoin conjunta.

As recompensas pagas aos detentores de stablecoins e o mercado emergente de versões “tokenizadas” de ativos como os títulos do Tesouro também aumentam a probabilidade de que as pessoas tenham mais opções para obter rendimento. Os bancos, de forma geral, podem ter que aumentar as taxas pagas aos depositantes para competir.

Para os maiores bancos, lidar com tudo isso deve ser administrável. Já os bancos menores podem enfrentar uma disrupção maior se as stablecoins realmente se popularizarem.

Contato: Telis Demos – [email protected]

Traduzido do inglês por InvestNews

Presented by






Source link

About The Author