6 de junho de 2025

Maio amargo para o dólar – e azedo para o real

A vida do dólar continuou difícil em maio. Em meio às incertezas geradas pelas idas e vindas das tarifas impostas pelo presidente americano Donald Trump, a moeda americana enfrentou outras forças que a mantiveram em modo esperar para ver.

Quem não conseguiu surfar essa onda de dólar mais fraco, no entanto, foi o real. E isso tem a ver com a preocupação com o cenário fiscal e, mais especificamente, a reação negativa do mercado à decisão do governo de taxar os fundos que aplicam no exterior – que acabou sendo revertida justamente por causa dessa reação.

Essa tentativa de taxação gerou no mercado a sensação de que o governo estava fazendo uma espécie de controle de capital – o que seria muito negativo para um país que adota o câmbio flutuante. A medida foi revertida, mas o mal estar ficou E aí o dólar fechou o mês de maio em alta de 0,76% na comparação ao real. Foi uma alta modesta, é verdade. Mas que contrasta com o comportamento de outras moedas emergentes.

A moeda americana fechou maio com queda de 0,50% frente ao euro e com baixa de 1,3% ante o iene. No ano até 2 de junho, o dólar acumula queda de 9,57% ante a moeda única europeia. Frente à divisa japonesa, a moeda dos EUA apresenta baixa de 9,32% no mesmo período.

Essa fraqueza também aparece no desempenho do chamado índice dólar (DXY), que compara a moeda americana a uma cesta com as principais moedas de economias avançadas. O referencial registra uma queda de 0,25% em maio e 9,3% em 2025 até 2 de junho.

Entre os emergentes, o peso mexicano seguiu a tendência global e subiu 0,91% no mês passado. No ano, a moeda do México acumula alta de 7,85%.

Entre os fatores que mantêm a divisa dos Estados Unidos mais fraca neste ano entraram na conta no mês passado a desconfiança gerada pelo pacote de redução de impostos enviado pelo governo dos EUA ao Congresso e o corte da nota de crédito pela Moody’s, a única das três grandes agências de rating que ainda mantinha o país no grupo dos triplos A.

O pacote que torna permanente os cortes implementados em 2017 no primeiro governo Trump e acrescenta novas reduções de impostos pode levar a um crescimento ainda mais forte da dívida pública dos EUA nos próximos anos. O endividamento americano já supera 100% do PIB e os projeções colocam essa taxa em 118% até 2035. Tratam-se dos maiores níveis desde a Segunda Guerra Mundial.

As perspectivas para a política monetária americana também afetaram o desempenho do câmbio. O mercado tem colocado suas fichas na retomada dos cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) a partir do segundo semestre. Taxas menores costumam levar os investidores a buscar produtos mais rentáveis em outros países, o que pode levar a um enfraquecimento do dólar.

A ferramenta CME Fedwatch, que traz a visão dos investidores sobre as perspectivas para a política monetária americana, mostra que o mercado coloca 70% de chances de o Fed reduzir os juros na reunião de setembro.

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