O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta quinta-feira, 13, que concordou com as propostas dos Estados Unidos para estabelecer um cessar-fogo na Ucrânia, mas com a condição de que qualquer trégua deve levar a uma “paz duradoura” e teria que lidar com a “raiz das causas do conflito”. Kiev aceitou na véspera o plano americano para pausar os combates por 30 dias de maneira “imediata”, e Washington declarou que “a bola está na quadra” dos russos.
“Concordamos com as propostas para cessar as hostilidades”, disse Putin a repórteres em uma entrevista coletiva no Kremlin, após conversas com o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, um de seus principais aliados.
“Mas partimos do fato de que essa cessação deve ser tal que levaria à paz de longo prazo e eliminaria as causas originais desta crise.”
Ele deu continuidade à postura cética com que o Kremlin recebeu a proposta de trégua. A Ucrânia entregou ao Kremlin um abacaxi quando aceitou o cessar-fogo, justo no momento em que os russos têm a vantagem no campo de batalha. Se topar o cessar-fogo, seria impediria de fazer novos ganhos territoriais. Mas se rejeitá-lo, arrisca sua reaproximação com Washington. Putin escolheu um meio termo: deve tentar vincular a trégua a certas condições que protegeriam os interesses de Moscou.
“Nada” para a Rússia
As Forças Armadas da Rússia têm feito avanços desde meados de 2024 e controlam quase 20% do território da Ucrânia, três anos após o início da invasão. Steve Witkoff, o enviado especial do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chegou a Moscou nesta quinta para negociações. O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Mike Waltz, deu detalhes para o Kremlin sobre o cessar-fogo na véspera.
Mais cedo nesta quinta, Yuri Ushakov, um ex-embaixador em Washington que fala por Putin em grandes questões de política externa, disse à TV estatal russa que havia conversado com Waltz no dia anterior para delinear a posição da Rússia sobre o cessar-fogo – em suma, que não traria benefícios à Rússia, apenas às forças ucranianas, ao dar-lhes tempo para descansar e reabastecer seus suprimentos de armas.
“Eu declarei nossa posição de que isso não é nada além de uma trégua temporária para os militares ucranianos, nada mais”, disse Ushakov. “Isso não nos dá nada. Só dá aos ucranianos uma oportunidade de se reagrupar, ganhar força e continuar a mesma coisa”, acrescentou. Ele defendeu que a proposta precisa ser atualizada para levar em conta os interesses da Rússia.
Mas Ushakov, ao lado de Putin no Kremlin desde 2012, não chegou a rejeitar completamente a proposta dos Estados Unidos.
“Parece-me que ninguém precisa de medidas que (meramente) imitem ações pacíficas nesta situação”, disse ele, deixando claro pensar que os europeus tentam pintar Moscou como uma figura “contra a paz”.
O que Putin quer?
Os principais objetivos do líder russo continuam sendo os que ele declarou quando lançou a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022. São eles: Kiev nunca deve se juntar à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), precisa se comprometer em encolher drasticamente seu Exército e proteger a língua e a cultura russas para manter o país na órbita de Moscou. Além disso, também quer que os ucranianos retirem totalmente as suas forças das quatro regiões que Moscou pretende anexar (cerca de 20% do território do vizinho).
As autoridades russas também adiantaram que qualquer acordo de paz deve envolver o descongelamento de ativos russos em bancos na Europa e nos Estados Unidos, bem como o fim das sanções ocidentais contra o país. O governo do presidente americano, Donald Trump, já colocou na mesa um possível alívio ao bloqueio econômico.
Em paralelo, a necessidade de “remover as raízes da crise” é uma referência a uma demanda antiga de Putin, de retirar forças da Otan de perto das fronteiras russas, algo que ele descreve como uma grande ameaça à segurança da Rússia.
Por fim, o líder do Kremlin exigiu que a Ucrânia realize novas eleições e argumentou que o presidente do país, Volodymyr Zelensky, cujo mandato expirou no ano passado (não houve novo pleito por conta do estado de guerra), não tem legitimidade para assinar um acordo de paz. Trump ecoou a visão de Moscou.
O que mais ele poderia exigir?
O cientista político Sergei Markov, que tem uma postura pró-Kremlin, sugeriu que a trégua poderia estar atrelada ao fim do fluxo de armas e aparato bélico do Ocidente para a Ucrânia. Depois de Kiev concordar com o cessar-fogo, os Estados Unidos retomaram os envios de assistência militar e o compartilhamento de inteligência com os ucranianos.
“A Rússia poderia dizer sim a uma oferta de cessar-fogo, aceitando uma trégua de 30 dias, com a condição de que um embargo seja imposto ao fornecimento de armas para a Ucrânia”, escreveu Markov.
Outro desejo do Kremlin é uma eleição presidencial na Ucrânia, o que seria possível após a Ucrânia suspender a lei marcial. Tecnicamente, um acordo de cessar-fogo permitiria dar esse passo. Alexei Naumov, especialista em política externa baseado em Moscou, também escreveu que a Rússia provavelmente aceitaria a oferta de cessar-fogo se isso levasse os ucranianos à urnas.
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