A relação da sociedade com o trabalho é complexa e fundamental, não apenas por questões tangíveis, mas também pela dignidade, estima e mobilidade que nos são conferidas. Essa relação tende a acompanhar as mudanças econômicas e culturais de uma civilização e tende a se moldar aos comportamentos sociais em que está inserida.
Traçando um recorte de gênero, as mulheres carregam uma história de desigualdade, submissão e de participação limitada em relação aos homens. O patriarcado é um sistema social que, ao longo dos anos, organizou as sociedades de maneira hierárquica, com os homens ocupando posições de poder e autoridade em diversas esferas, como na política, na religião e no mercado de trabalho, criando inúmeros obstáculos para a presença ativa das mulheres em determinados setores.
Ainda que tenhamos conquistado espaços importantes, precisamos conviver com o machismo, muitas vezes velado, e desafiá-lo em nossas relações de trabalho ou mesmo pessoais. Por experiência própria, posso dizer que alguns setores são mais estigmatizados, estereotipados e “masculinizados” do que outros, como a construção civil, que ainda é majoritariamente ocupada por homens: segundo dados da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (ABRAIM), no mercado formal, há apenas 9,2% de participação feminina nesse setor.
A equidade de gênero não se resume a garantir que as mulheres ocupem o mesmo número de vagas que os homens. Trata-se de criar condições justas para que elas tenham as mesmas oportunidades de desenvolvimento, ascensão profissional e para que questões históricas também sejam reparadas. Mulheres em posições de liderança enfrentam desafios distintos, desde a desvalorização de suas decisões até a pressão para se comportarem de maneira “masculina” para serem levadas a sério. Superar esses obstáculos exige mais do que apenas um acesso igualitário às oportunidades; é preciso também que as estruturas organizacionais ofereçam espaços de respeito e segurança psicológica, ao mesmo tempo que incentivam que as pessoas sejam como são. A verdadeira equidade só será alcançada quando uma mulher puder ser líder sem precisar se adaptar a um molde que não corresponde à sua identidade ou ao seu estilo de liderança.
Quando optei por seguir esse caminho, sabia que encontraria alguns degraus a mais na minha carreira em relação à trajetória de um homem. Sabia que teria que provar meu conhecimento e potencial algumas vezes mais. Entrei no McDonald’s, em 2006, como Estagiária de Engenharia e tive a oportunidade de me desenvolver na área de gestão de projetos e obras com o suporte dos gestores da área e de minha família, uma grande rede de apoio até hoje em minha rotina.
Nessa semana, completo 19 anos de companhia e fazer um balanço é inevitável. Atualmente, sou uma das líderes da área que conta com uma equipe com 60% de participação feminina. O caminho que trilho no mercado de trabalho e dentro da Arcos Dorados é marcado por desafios profissionais e pessoais, por momentos de desenvolvimento acadêmico, pela maternidade e pelo suporte recebido das pessoas com quem convivo.
A minha história, assim como a de diversas colegas com quem tenho o prazer de trabalhar todos os dias, mostra a importância de não só oferecer oportunidades em igualdade para mulheres, como também em criar um ambiente de trabalho de fato colaborativo e diverso, com programas de desenvolvimento, carreira e liderança, com iniciativas que visem o nosso bem-estar e com uma conduta livre de assédio e preconceitos.
É possível que uma empresa seja economicamente sustentável sem renunciar à diversidade e à inclusão. Na Arcos Dorados, operadora da marca McDonald’s na América Latina: 53% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres. Esses números refletem um real compromisso que baliza a cultura, a conduta e os processos decisórios da companhia. Entretanto, ainda existem muitos desafios a serem superados em um mercado de trabalho que ainda tem uma minoria de mulheres atuando em condições de equidade de gênero. Esse é um projeto que eu gostaria de ver sair da “prancheta” com a mesma agilidade que construímos novos restaurantes.
(*) Bruna Maria de Medeiros Benvenga é graduada e mestre em Arquitetura e Urbanismo e ocupa a posição de Gerente Sênior de Projetos de Engenharia na Divisão Brasil da Arcos Dorados.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.
More Stories
rentabilidade duvidosa para cidade sem praia
Dupla mata morador de rua com pedra após discussão em Deodápolis
Golpe promete habilitação sem exames por R\$ 400