30 de abril de 2025

MS entre os mais beneficiados com emendas parlamentares desiguais

Com indicadores sociais mais elevados, MS recebe recursos per capita que superam os de Estados vulneráveis

MS está entre os Estados mais beneficiados com emendas tidas como “desiguais”
Plenário da Câmara dos Deputados durante discussão e votação de projetos (Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

Entre 2020 e 2024, o Governo Federal pagou R$ 51,7 bilhões em emendas parlamentares, distribuídas de forma igualitária entre os Estados, sem considerar fatores como a população, a vulnerabilidade social ou a arrecadação de cada unidade da federação. Este modelo de distribuição tem gerado críticas por suas distorções, e Mato Grosso do Sul está entre os Estados que mais receberam recursos por habitante, apesar de ter índices de vulnerabilidade social superior a outros Estados mais populosos e com maiores necessidades.

Entre 2020 e 2024, o Governo Federal distribuiu R$ 51,7 bilhões em emendas parlamentares de forma igualitária entre os Estados, sem considerar fatores como população ou vulnerabilidade social. Mato Grosso do Sul (MS) está entre os mais beneficiados, recebendo R$ 432 por habitante, superando Estados mais populosos e com maiores necessidades, como Bahia e Pará. O modelo atual, criticado por sua falta de critérios técnicos, favorece Estados como Roraima, que recebeu R$ 1.899 por habitante, enquanto São Paulo recebeu apenas R$ 38. Especialistas apontam que a distribuição não beneficia necessariamente os Estados mais pobres.

O levantamento realizado pelo Estadão, em parceria com a Central das Emendas, levou em conta duas categorias de repasses: as emendas de bancada, assinadas por parlamentares da mesma unidade da federação e com um teto anual de cerca de R$ 300 milhões por Estado; e as emendas individuais de senadores, que também seguem um valor fixo, independentemente do tamanho da população. Como cada Estado possui três senadores, todos recebem três cotas iguais, de aproximadamente R$ 44 milhões por ano.

As emendas individuais de deputados federais ficaram de fora do estudo, já que sua distribuição leva em conta o número de cadeiras por Estado e apresenta, ainda que parcialmente, uma proporcionalidade com a população.

Com base nestes critérios, os dados apontam que Mato Grosso do Sul foi beneficiado com R$ 432 por habitante entre 2020 e 2024. Esse valor coloca o Estado entre os mais favorecidos no país, superando unidades federativas como a Bahia, que tem mais de 14 milhões de habitantes, e o Pará, com grandes demandas sociais, mas que receberam valores per capita bem inferiores (R$ 89 e R$ 159, respectivamente).

No entanto, a grande discrepância ocorre quando se observa a situação de Estados como Roraima, que recebeu R$ 1.899 por habitante, enquanto São Paulo, o mais populoso do país, recebeu apenas R$ 38.

Valor per capita das emendas de bancada por Estado (2020–2024)

Estado Valor Empenhado (R$) População Valor Per Capita (R$)
Roraima 1.209.608.574,01 636.707 1.899,79
Amapá 1.269.640.485,09 733.759 1.730,32
Acre 1.220.757.057,80 830.018 1.470,76
Tocantins 1.294.850.059,48 1.511.460 856,69
Rondônia 1.041.332.239,61 1.581.196 658,57
Sergipe 1.178.195.231,84 2.210.004 533,12
Mato Grosso do Sul 1.192.560.435,62 2.757.013 432,56
Distrito Federal 1.199.676.523,66 2.817.381 425,81
Piauí 1.322.004.909,15 3.271.199 404,13
Alagoas 1.254.724.616,20 3.127.683 401,17
Rio Grande do Norte 1.263.630.446,99 3.302.729 382,60
Espírito Santo 1.397.226.749,22 3.833.712 364,46
Mato Grosso 1.245.550.051,10 3.658.649 340,44
Amazonas 1.269.774.419,34 3.941.613 322,15
Paraíba 1.230.011.090,20 3.974.687 309,46
Maranhão 1.320.300.996,83 6.775.805 194,86
Goiás 1.271.827.573,14 7.056.495 180,24
Santa Catarina 1.245.858.617,30 7.610.361 163,71
Pará 1.294.275.671,85 8.121.025 159,37
Ceará 1.287.160.312,38 8.794.957 146,35
Pernambuco 1.239.022.473,13 9.058.931 136,77
Rio Grande do Sul 1.272.206.009,58 10.882.965 116,90
Paraná 1.265.962.520,31 11.444.380 110,62
Bahia 1.264.109.904,23 14.141.626 89,39
Rio de Janeiro 1.215.817.693,89 16.055.174 75,73
Minas Gerais 1.220.614.373,82 20.539.989 59,43
São Paulo 1.695.262.033,67 44.411.238 38,17

Fonte: Estadão, em parceria com a Central das Emendas 

Segundo Bruno Bondarovsky, pesquisador da PUC-Rio na área de gestão pública e responsável pela criação da Central das Emendas, o modelo atual passa a impressão equivocada de justiça ao distribuir valores iguais para Estados com contextos sociais, econômicos e demográficos muito diferentes. O principal problema, segundo ele, é a ausência de critérios técnicos, como o nível de desigualdade social e a capacidade de arrecadação.

“Há uma ideia comum de que esse modelo beneficia os Estados mais pobres por destinar mais recursos a eles. Mas isso não é verdade”, afirma Bondarovsky. “Quem mais precisa não recebe mais, e quem recebe mais nem sempre está em pior situação”, disse em entrevista ao Estadão.

O modelo de emendas foi alterado em 2015, quando as emendas individuais de senadores passaram a ser obrigatórias. Em 2019, as emendas de bancada também passaram a seguir a mesma lógica de distribuição fixa. A falta de critérios técnicos, como desigualdade social ou capacidade de arrecadação, leva a uma concentração de recursos em Estados que, como MS, têm condições econômicas e sociais mais favoráveis.

A senadora Soraya Thronicke (Podemos), líder da bancada de Mato Grosso do Sul no Congresso, foi procurada para comentar sobre a distribuição das emendas parlamentares e o modelo adotado para a distribuição dos valores, mas até a publicação da matéria não houve retorno. O espaço segue aberto.

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