9 de maio de 2025

Quem é Robert Francis Prevost, agora o papa Leão XIV

O protodiácono da Santa Sé, cardeal Angelo Mamberti, do alto do balcão da Basílica de São Pedro, em meio a um silêncio reverente, proferiu nesta quinta-feira, 8, a famosa frase “Habemus Papam, e anunciou a escolha do cardeal americano Robert Francis Prevost, 69 anos, como o novo líder da Igreja Católica. O primeiro pontífice dos Estados Unidos escolheu o nome de papa Leão XIV.

A decisão, fruto de intensas deliberações entre os cardeais reunidos em conclave, representa uma nova direção para a Igreja Católica em tempos de desafios e transformações.

Prevost, nascido em Chicago, é visto como um clérigo que transcende fronteiras. Há muito tempo existe um tabu contra um papa americano, dado o poder geopolítico já exercido pelos Estados Unidos na esfera secular. Mas ele serviu por duas décadas no Peru, onde se tornou bispo e se naturalizou cidadão, e depois ascendeu a líder máximo de sua ordem religiosa, a de Santo Agostinho, que opera em cinquenta países e tem como foco a vida em comunidade e a igualdade entre seus membros.

Se papa Francisco era conhecido como “o argentino mais europeu possível”, devido à sua ancestralidade italiana, o jornal italiano La Repubblica chamou Provost de “o menos americano dos americanos” por sua fala mansa.

Antes de sua eleição como papa, ele ocupava um dos cargos mais influentes no Vaticano, como prefeito do Dicastério dos Bispos, que analisa as indicações de bispos do mundo todo. Como resultado, ao entrar na Capela Sistina para o conclave, desfrutava de uma proeminência que poucos outros cardeais tinham – além de poder conversar com muitos em suas línguas nativas, sendo fluente em inglês (por óbvio), italiano, espanhol, francês e também português.

Dá para dizer que Francisco estava de olho nele há anos, transferindo-o da liderança agostiniana de volta ao Peru em 2014 para servir como administrador e, posteriormente, arcebispo de Chiclayo. Até que o falecido pontífice o trouxe a Roma em 2023, para assumir a presidência da Pontifícia Comissão para a América Latina – e depois o Dicastério dos Bispos.

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Caminho do meio

Enquanto grupos progressistas e conservadores na Cúria Romana debatem entre continuar a agenda inclusiva do papa Francisco ou dar um giro de volta ao tradicionalismo, Prevost aparece como uma alternativa equilibrada. Ao contrário do antecessor, que falava o que pensava sem se preocupar demais com as consequências, ele é conhecido por ser mais contido e priorizar uma linguagem mais serena. Sempre manteve perfil discreto, embora fosse conhecido por todos da elite da Cúria Romana.

Do alto da sacada da Basílica São Pedro, ao se apresentar à multidão na praça abaixo e ao mundo pela primeira vez como Bispo de Roma, ele deu destaque a temas que eram caros a Francisco, como a necessidade da Igreja acolher a todos e todas, a urgência por sinodalidade, o que significa uma estrutura menos hierarquizada e mais inclusiva da instituição de mais de 2.000 anos, e a defesa da luta pela paz.

“Devemos buscar juntos como ser uma igreja missionária, que constrói pontes de diálogo, sempre aberta a receber, como essa praça, a todos, a todos que precisam de nossa caridade, nossa presença, de diálogo de amor”, declarou ele diante de milhares de fiéis. “O mundo precisa de pontes com diálogo, encontro, unindo-nos todos para ser um povo em paz. Obrigado, papa Francisco”, declarou, lembrando das últimas falas do falecido pontífice, na Páscoa, um dia antes de sua morte.

“A todos vós irmãos e irmãs de Roma, da Itália, do mundo, queremos ser uma igreja sinodal, que busca sempre a caridade, que busca sempre estar próxima daqueles que sofrem. Que a paz esteja convosco”, afirmou. Ele também lembrou as palavras de Santo Agostinho: “Para vocês sou bispo, mas com vocês, sou cristão.”

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O padre Mark Francis, amigo de Prevost desde a década de 1970, disse à agência de notícias Reuters que o religioso era um firme apoiador do papado de seu antecessor e, especialmente, do compromisso do falecido pontífice com questões de justiça social.

“Ele sempre foi amigável e afetuoso e permaneceu uma voz de bom senso e preocupações práticas para a ajuda da Igreja aos pobres”, disse Francis, que frequentou o seminário com Prevost e o conheceu mais tarde quando ambos moravam em Roma na década de 2000. “Ele tem um senso de humor irônico, mas não era alguém que buscava os holofotes”, acrescentou.

Visões de mundo

Embora seu primeiro discurso, que geralmente dá o tom do papado, tenha indicado uma continuidade do legado de Francisco, os dois têm duas diferenças. Se o falecido pontífice respondeu “Quem sou eu para julgar?” quando questionado sobre fiéis gays, o cardeal Prevost expressou opiniões menos receptivas à comunidade LGBTQIA+. Em um discurso a bispos em 2012, ele lamentou que a mídia e a cultura popular ocidentais fomentassem “simpatia por crenças e práticas que estão em desacordo com o Evangelho”. Ele citou o “estilo de vida homossexual” e “famílias alternativas compostas por parceiros do mesmo sexo e seus filhos adotivos”.

Como bispo em Chiclayo, uma cidade no noroeste do Peru, ele se opôs a um plano do governo de incluir educação sobre gênero nas escolas. “A promoção da ideologia de gênero é confusa, porque busca criar gêneros que não existem”, disse ele à mídia local.

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No campo da inclusão, por outro lado, o clérigo presidiu uma das reformas mais revolucionárias de Francisco, ao adicionar três mulheres ao bloco de votação que decide quais indicações de bispos serão encaminhadas ao papa. O falecido pontífice fez da incorporação de figuras femininas a altos cargos na hierarquia administrativa do Vaticano um de seus nortes – embora não tenha dado qualquer tipo de passo na direção de fazê-las escalar a hierarquia religiosa, algo muito mais espinhoso.

Embora elogiado no Peru por apoiar imigrantes venezuelanos e fazer questão de visitar comunidades distantes e empobrecidas, dois pontos de alinhamento com Francisco, ele recebeu críticas por sua relação com clérigos acusados ​​de abuso sexual. Uma mulher em Chiclayo, que afirmou ter sido vítima de dois padres quando menina (muito antes de Prevost tornar-se bispo), acusou-o de conduzir mal uma investigação e de não impedir um dos acusados de celebrar missas.

A diocese de Chiclayo afirmou que Prevost abriu uma investigação que o Vaticano encerrou. Após a chegada de um novo bispo, a investigação foi reaberta. Seus apoiadores, por sua vez, argumentam que ele foi alvo de uma campanha de difamação por membros de um movimento católico peruano que Francisco dissolveu.

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