9 cidades de MS celebram aniversário em data da Lei Áurea

Em Mato Grosso do Sul, nove municípios celebram aniversário em 13 de maio, data que vai muito além de uma coincidência de calendário. Angélica, Aral Moreira, Deodápolis, Eldorado, Mundo Novo, Bodoquena, Itaquiraí, Sete Quedas e Tacuru nasceram oficialmente nesse mesmo dia, escolhendo como marco de emancipação a data em que foi assinada a Lei Áurea, a lei que pôs fim à escravidão no Brasil em 1888.

Conforme aponta estudo da Secretaria de Estado de Governo e Gestão Estratégica (SEGOV), essa data carrega um forte simbolismo de liberdade e independência. “Assim como a Lei Áurea representou a libertação de milhares de brasileiros, a emancipação municipal simbolizou a autonomia política e administrativa dessas comunidades”, explica o historiador João Silva.

Embora separados por geografia e características próprias, os caminhos dessas cidades se cruzam por razões históricas e políticas que remontam à fundação do próprio estado de Mato Grosso do Sul.

Um ato simbólico – A primeira leva de emancipações aconteceu em 1976, ainda sob o antigo estado de Mato Grosso, antes da divisão que criaria Mato Grosso do Sul. Naquele 13 de maio, foram assinadas as leis de criação de Angélica, Aral Moreira, Deodápolis, Eldorado e Mundo Novo. Poucos anos depois, já sob o novo estado sul-mato-grossense, em 1980, o gesto se repetiria: Bodoquena, Itaquiraí, Sete Quedas e Tacuru também foram oficializados no mesmo 13 de maio.

A escolha da data não foi acidental. Inspirados no simbolismo da Lei Áurea — sinônimo de liberdade e novos começos —, legisladores e governadores da época decidiram registrar as emancipações no mesmo dia, associando o nascimento dos novos municípios a um espírito de autonomia e progresso.

Um passado comum – Mais do que a coincidência da data, os municípios também compartilham raízes administrativas e históricas profundas.

– Angélica e Deodápolis têm origem ligada a Dourados e seus desmembramentos. Ambas surgiram da forte migração agrícola que transformou a região do Vale do Ivinhema nos anos 1950 e 1960.

– Eldorado, Mundo Novo e Itaquiraí foram “irmãos de território”, todos desmembrados de Iguatemi. Por alguns anos, os três formaram distritos vizinhos dentro do mesmo município mãe, antes de se separarem em emancipações sucessivas.

– Sete Quedas e Tacuru, por sua vez, nasceram de Amambai, fruto dos projetos federais de colonização que aceleraram o povoamento da faixa sul fronteiriça durante a década de 1970.

– Já Aral Moreira, apesar de ter sido emancipado sozinho a partir de Ponta Porã, compartilha com Sete Quedas e Tacuru a mesma experiência de colonização agrícola e desafios típicos dos municípios de fronteira com o Paraguai.

No caso de Bodoquena, a história é um pouco distinta: o município foi desmembrado de Miranda, situado entre o Pantanal e a Serra da Bodoquena, e seguiu uma trajetória ligada ao turismo de natureza, distinta dos vizinhos agrícolas do Cone Sul.

Em busca da autonomia – A história comum desses municípios também revela um momento específico do Brasil: a década de 1970 foi marcada pela forte expansão agrícola e por políticas federais de interiorização e ocupação de novas áreas. No sul de Mato Grosso (e depois Mato Grosso do Sul), essa expansão criou dezenas de vilas e núcleos urbanos que logo pressionaram por autonomia administrativa, buscando acesso direto a recursos públicos e gestão própria.

Ao emanciparem seus distritos, antigos municípios como Dourados, Iguatemi, Amambai, Miranda e Ponta Porã foram “perdendo” território — mas, em contrapartida, surgiram novas cidades que moldaram a configuração atual do estado.

As emancipações em massa registradas no 13 de maio se tornaram, portanto, símbolo não apenas da fundação de novos municípios, mas também da transformação social e econômica de Mato Grosso do Sul na virada entre os anos 1970 e 1980.

Herança viva – Hoje, a ligação histórica permanece viva. Muitas dessas cidades continuam compartilhando consórcios públicos nas áreas de saúde, meio ambiente e desenvolvimento econômico. Seus habitantes mantêm laços de parentesco, comércio e cultura, fruto de uma colonização comum que marcou profundamente a identidade regional.

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